– Companheiros estamos aqui reunidos, nesta mesa de bar para discutirmos a dissolução de nosso partido o PTCECGR(nog)RPC – Partido "Trotquista" Combativo de Esquerda Contra o Governo Revolucionário (não o Governo), Revolucionário para Caralho.

      – Também concordo, mas acho que o companheiro poderia detalhar mais o assunto para esclarecer o pleno do partido aqui reunido.

      Estavam presentes na plenária todos os membros, o que ocupou cinco cadeiras na calçada de um boteco próximo à praça da República. Todos falavam baixo, quase sussurravam, falavam em surdina.

      – Questão de ordem companheiro.

      – Questão de ordem concedida.

      – Porque ainda estamos na clandestinidade em pleno governo Lula?

      – Companheiros esta é uma questão política. Foi uma forma de mantermos o partido coeso, unido e impedir a entrada da pequena-burguesia que deturpa e corroe com seus vícios.

      – Concordo companheiro, pena termos eleito nossas esposas como o objeto de repressão. A minha companheira já teve nosso terceiro filho e eu ainda nem conheci o primeiro.

      – Tínhamos que nos esconder de alguém, como o governo não reprime mais…

      – Tem mais companheiros minha companheira me ligou ontem. Fomos descobertos, temos que trocar de aparelho.

      – Mas você falou que eu comprasse prestobarba. Porque quer trocar o aparelho agora?

      – Não é deste aparelho que estou falando companheiro. Mais atenção à plenária ou o levaremos à comissão de ética.

      – Tudo bem, voltemos à pauta.

      – Proponho três minutos para cada um. Em dois minutos o secretário da mesa avisa e os companheiros usam o minuto restante para concluir. Concordam?

      Todos concordaram e a plenária do PTCECGR(nog)RPC começou.

      – Bem companheiros, a dissolução de nosso partido é um sacrifício que está na ordem do dia e que devemos fazer em benefício do povo e do nosso país. O problema é que está muito complicado militar ultimamente. Antes era fácil, era só lutar contra a ditadura e o povo vinha junto, depois com a democracia da burguesia, ficou um pouco mais complicado, mas ainda dava para lutar contra o "neo-liberalirmo" e o governo entreguista de Fernando Henrique Cardoso. Mas agora… Agora está muito difícil, votamos no atual presidente, o seu Zé da padaria disse que só votou por que eu pedi seu voto. Agora, todo dia que me encontra diz: "E aí? E o nosso presidente?". Esta política está muito complicada, nem podemos ser totalmente contra, nem totalmente a favor, estamos causando confusão na cabeça do povo companheiros e a ideologia do nosso partido não permite este tipo de desvio ideológico.

      – Nós somos contra! Vamos montar um partido que é completamente contra este governo. Nossa facção vai se chamar PTCECGR(nog)RPCO – Partido Trotquista Combativo de Esquerda Contra o Governo Revolucionário (não o Governo), Revolucionário para Caralho de Oposição.

      – Mas ele é operário.

      – Nós somos a favor! Vamos construir o PTCEFGR(nog)RPC – Partido Trotquista Combativo de Esquerda a Favor do Governo Revolucionário (não o Governo), Revolucionário para Caralho.

      – Vocês estão tergiversando para o povo companheiros!

      – Calma companheiros não vamos perder a cabeça.

      – Estes companheiros estão sendo picaretas!

      – O que é isso companheiro! Você sabe que a palavra picareta é proibida em nossa organização. Faça auto-crítica.

      O outro olhando para o céu.

      – Desculpe companheiro Trotski, me precipitei.

      – Continuemos!

      Um dos outros, falando mais baixo ainda: "Vamos embora. Dispersar, dispersar".
 
      – O que foi companheiro?

      – Nossas mulheres estão se aproximando.

      – Já falei que não devemos marcar reunião próximo de nossas antigas residências. Nos retiramos agora e trataremos desta pauta na próxima reunião.