Nenhum país conseguiu realizar mudanças e auferir conquistas sem a mobilização de seu povo. Transcorridos oito meses do governo Lula, mais do que nunca os brasileiros devem ter em mente esta lição da história. Sendo este governo também filho de suas lutas, os trabalhadores em conjunto com outros segmentos da nação precisam exercer o papel de protagonistas para que o programa de mudanças se torne realidade.

Apesar dos negativos condicionantes externos e internos, de erros e acertos, da linha sinuosa que descreve, visto que sua dinâmica tem sido regida pelo conflito entre a mudança e o continuísmo, o governo continua a ter a confiança da nação. O que se vê nas ruas, nos locais de trabalho, nos lares e nas pesquisas de opinião confirmam que a esperança despertada pela vitória de 2002 mantém-se acesa.

Este apoio vem do fato de que embora marcado por dualidades, contradições, avanços e recuos, fenômenos decorrentes da correlação de forças e do período de transição em que vive, o governo, sob a chefia do presidente Lula e do núcleo mais compacto que o cerca, reafirma a todo instante o compromisso com a mudança e empreende enorme esforço para direcionar o país no rumo da soberania, do desenvolvimento e da justiça social.

Contudo, a esperança e a confiança esbarram numa realidade ainda muito adversa. Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Departamento Intersindical de Estudos Sociais e Econômicos (Dieese), que aferem a situação da economia real, bem demonstram este quadro negativo. É claro que tal estatística, em grande medida, é decorrente do efeito cumulativo do desastre que foram as duas décadas anteriores – sobretudo, a última –, pilotada pelo neoliberalismo do PSDB e do PFL.

Pelos dados daqueles institutos, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não deve passar do nanico índice de 1,5% em 2003. A indústria encontra-se tecnicamente em recessão, uma vez que nos dois últimos trimestres registrou percentual negativo. O desemprego continua com uma taxa muito alta, 12,8% da população economicamente ativa. A renda média do trabalhador caiu 16,4% no mês passado, em relação a julho de 2002. Por sua vez, as vendas no comércio recuaram 5,37 em junho.

Evidentemente este quadro recessivo rebaixa ainda mais a qualidade de vida do povo, agravando seu sofrimento – o que provoca descontentamento popular e desgasta a autoridade política do governo.
Consciente da necessidade imediata de reverter este quadro, o presidente Lula e o chamado núcleo duro de seu governo, depois de vencido o difícil desafio de retirar o país da situação de pré-insolvência financeira que herdou de FHC, depois “de arrumada a casa,” adotam um conjunto de medidas com o objetivo de que a economia do país volte a crescer.

Em agosto, o corte de 2,5% na taxa básica de juros, a Selic, que caiu de 24,5% para 22%, obteve ampla receptividade nos diferentes pólos da sociedade, dos trabalhadores aos empresários. Este aplauso vem do fato de a queda da taxa de juros aquecer a economia e liberar investimentos e, por conseguinte, alavancar a retomada do crescimento econômico. Essa medida não é um fato isolado. Agrega-se a outras, tais como o programa de investimentos em obras de infra-estrutura, as linhas de micro crédito, o apoio à reforma agrária e agricultura familiar, ostensivos esforços visando à inclusão social e à política ativa de recompor o Mercosul e de diversificar as relações comerciais do país.

Soma-se a isso, ainda, a postura altiva do governo brasileiro em relação ao Fundo Monetário Nacional (FMI). O próprio presidente da República afirmou que tendo o Brasil conquistado credibilidade e equilíbrio financeiro, não se apresenta como imperativa a renovação do acordo com o Fundo Monetário Internacional. "Pela lógica, o Brasil não precisa renovar o acordo. Assinar ou não um novo acordo depende de vontade do governo, do acordo em si e das condições que forem negociadas."

Mas, nos marcos da atual globalização imperialista que rege o mundo e sob a qual obviamente encontra-se o Brasil, o projeto almejado, de levar o país a conhecer um novo ciclo de crescimento via um modelo de desenvolvimento auto-sustentado, é uma meta arrojada contra a qual agem os poderosos interesses do capital financeiro.

Para dobrar a resistência desses setores das classes dominantes que se locupletam com o atual modelo vigente, impõe-se uma união nacional, uma mobilização de amplos setores da nação, em prol do desenvolvimento e da justiça social.

*Comissão Editorial

EDIÇÃO 70, AGO/SET/OUT, 2003, PÁGINAS 3