Marasmo de dia frio.

      Acordou cansado de tanto vinho e tanta zoada. Abriu a janela, foi ao banheiro. No retorno, descobriu muita roupa no chão e, no meio delas, um certo cheiro.

      Às vezes, achava-se um cão – um faro para odores estranhos a seu ambiente.

      De tanto vasculhar, encontrou uma saia. O que faz isso aqui?

      Foi para sala. Eis que ela surge, estirada no sofá, nua, vendo tv. Sorri. Diz-lhe um bom dia e aponta a mesa. Uma melancia aberta, vermelha, úmida de recém partida, resplandecia sobre uma travessa. Pedaços minúsculos repousavam num prato. A faca, uma peixeira média, manchava a tolha.

      Agora lembrava: a festa de aniversário tinha ido até as cinco, tomaram um táxi, e vieram pra sua casa. Mas por que não lembrava do rosto dela? Por que essa sensação viva, nítida, de que só agora a conhecia?

      Ela se levantou e pediu uma toalha. Na gaveta sob o lavatório, foi sua resposta. Enquanto ela se dirigia ao chuveiro, ele se vestiu e saiu. Ia em demanda de pão e algum sentido.