O homem que calculava
José chegou na venda e pediu uma surpresa. Doralice franziu o cenho e pensou alto que ele era um doido. José não se perturbou: calculou o que tinha nos bolsos e convidou Dora – assim já a chamava – para uma cerveja. Ao que ela disse que estava de serviço e não podia beber. Ele sugeriu mais tarde. Mas mais tarde ela já tinha compromisso. Com quem? Não interessa. Tudo de você me interessa. Eu já conheço esse papo. Mas não me conhece. É tudo igual. Tudo igual é um caminhão de melancia. Ela riu. Ele renovou o convite. Ela baixou os olhos e riu numa timidez calculada. Ele, também calculadamente, pediu um bombom, pagou e a presenteou.
Saiu de lá com uma promessa e já pensava no tamanho dos cômodos, no número de filhos e onde poderia arrumar um emprego e plantar sua esperança – medida de seu sonho. Não era de altas aritméticas, mas sabia o quanto valia aquele sorriso, aquelas cadeiras e aquele coração pulsando no peito…
Seu ou dela?
A essa altura, já havia perdido a conta.