Vou dizer: isso aqui tá muito chato. Não digo assim chato de encher, torturar a gente. Mas que tá chato, tá.

      Cê veja: enfiam a gente aqui neste fim de mundo, marcam aula de manhã, leitura à tarde e palestra à noite. A cada 50 minutos, tome coffe-break, que é parada pro café em nosso bom e velho português, e tome bolo disso e daquilo, bolacha, ki-suco de sabor indefinido, café amargo. Meio-dia, almoço – e você nem digeriu aquele bolo. Seis e meia da tarde, janta. E aquela dieta, pode esquecer.

      Sim, que há vantagens, não duvido. A questão é: pra quem? Porque é verdade que a gente aprende, e um bocado. Eu mesmo, achando que sabia uma ruma de coisas, vi que não sabia era nada. Mas precisava ser chato?

      E o frio? Minha virgem santíssima!, isso não é frio, é o holocausto térmico. E você põe um, dois, três cobertores e fica perguntando quem esqueceu a porta do freezer aberta. E quando vem aquela vontade miserável do xixi noturno? É uma luta entre o ser e a consciência, meu amigo: o ser dizendo “vai, que não me agüento!” e a consciência respondendo “mas nem morta!”.

      Divertidíssimos são os fins de noite. Animadésimos! Uma dessas máquinas que só tocam o fino do brega, uma cantina que serve uns gorós deus me livre e guarde e você ali perguntando como conseguiram reunir tanta gente feia por metro quadrado – você incluso. Aí fica aquela dona te rodeando e você fazendo de conta que não é contigo. Depois da quarta dose, ela vai ficando ajeitada e, quando você dá fé, ó ela agarrada na sua boca. Passado o efeito do álcool, ela vai se metamorfoseando, enfeando, e ó você inventando que vai buscar uma cerveja e já volta.

      Hora de dormir: você corre na frente para tomar banho primeiro e ver se dorme antes dos outros quatro chegarem. Ilusão: já tem um chamando o hugo no vaso sanitário, e mais dois nos beliches, roncando da parede tremer.

      Depois de uma, duas horas de sono, seis e meia da matina, a moça esmurra a porta e grita no corredor. Você espera todo mundo tomar banho; infalivelmente, perde o prazo do café; e passa, contraditória e ansiosamente, a aguardar o famigerado coffe-break.

      Mas, tudo bem: o que vale é a experiência e o bem da ciência.