Comecemos pelo começo:

      Ela chegou atrasada, arrumou a mesa, pôs cada item em seu lugar e esperou. Não sabia o que iria passar por aquela porta tão alta, mas aguardava com a ansiedade e o controle de quem está prestes a ser chamada pela enfermeira: “sinto muito, fizemos o possível”.

      Não, não queria pensar no pior. Pra quê? Cada coisa a seu tempo. Tudo se passaria como se passado houvesse. Seria como uma surpresa sabida. E depois, o alívio.

      Foi conferir os recados. Nada. Resolveu-se então pela janela – uma paisagem para esse sufoco da expectativa.

      Quando tudo aconteceu, ela tomava café. A xícara ainda rolou pelo carpete. Um minúsculo rastro escuro acompanhou o semicírculo que a porcelana desenhou.

      No velório, a mãe pranteava: “Ela dorme! Minha filha dorme!”. O marido a fitava, como se a interrogasse. Não tinha filhos.

      Sentada no jardim, ela se perguntava quanto tempo ainda passaria naquela espera antes de tomar o trem. Uma dona, de olhos negros, mansos e profundos, veio despertá-la. Chamavam. Ela se levantou e tomou seu lugar na fila. Enfim, seria esquecida.