Uma faxineira que ficou trancada na biblioteca desesperava-se. Houve uma correria para encontrar a chave e, quando a porta se abriu, a senhora que veio de Porções na Bahia e mora a vinte anos no mesmo bairro, sem nunca ter saído dele, disse-me que "ficar presa" é o seu maior medo na vida.

      O maior castigo por qual passei quando era criança, foi ficar preso no banheiro. Meu pai, querendo que eu "aprendesse a lição", jogava água por baixo da porta para que eu não adormecesse deitado no chão. Mais tarde, preso durante uma greve, permanecendo quatro dias encarcerado, experimentei novamente aquele mesmo mal estar.

      Há uma boa razão para algumas pessoas associarem a palavra liberdade diretamente ao direito de locomoção e, a primeira vez que ouvi a palavra claustrofobia, não sei porque, ela parecia estar associada ao medo de não ter a liberdade num sentido mais amplo.

      Eu ainda não conhecia (e ainda não conheço suficientemente) a teoria de Karl Marx e Friederich Engels, mas já havia capturado uma frase solta: "liberdade é a consciência da necessidade" Eu já tinha ouvido falar de Cecília Meireles, mas ainda não conhecia esta passagem do Romanceiro da Inconfidência: "Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda".

      Bem, a pobre faxineira continua tirando o pó na biblioteca, sem nunca sentir a necessidade de ler um daqueles livros, mas, atenta ao movimento do abrir e fechar da porta.