Domingo eu vi Maria Rita. E ouvi. Na voz, nos gestos, revi ecos de Elis, é verdade, que me derreteram, me encheram daquela emoção própria de quando surpreendemos nossos amores reencarnados em seus filhos crescidos.

      Somado a isso e sobrepujando-o, existia Maria Rita mesmo, com aquilo que só ela tem. Não me perguntem o que é. Sei que tem.

      Adorei a música de abertura. Verdadeiro manifesto. Do repertório, nem tudo me agradou. Mas adorei quando cantou Milton. Sobretudo aquela inspirada em La Bamba, com que encerrou o espetáculo. Muito linda a do mineiro que, segundo seu depoimento, a fez chorar na fase de seleção, cantada com a mão no peito, lembrando certamente da mãe. Foi o ponto alto da apresentação.

      Escrevo isso, não só porque me tocou profundamente o especial apresentado na televisão, mas para render tributo à música popular brasileira, que ganha mais uma ótima cantora – quiçá grande –, e àquela que considero a sua maior intérprete: Elis Regina. Já disse mais de uma vez em rodas íntimas que, gente como ela, o Estado tinha a obrigação de proteger e promover. É mesmo uma pena que sua memória e sua arte sejam tão pouco cultivadas em nosso país.

      Espero sinceramente que tudo dê certo para Maria Rita. E que ela tenha uma consciência aguda da herança que recebeu e do papel social de sua arte. O que talvez ela jamais suspeite é que, na madrugada de ontem, um homem foi dormir mais feliz e esperançoso com o mundo.