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    Comunicação

    Relato

          Abri caminho na multidão. No meio da rua feita de poeira seca e vermelha, um pântano engolia um baobá. Na beira do charco, eu – menino ou velho? – em choro lamentoso, me desesperava pelo destino da árvore.       Homens mergulharam até a cintura no poço lodoso. Não pelo baobá. Acreditavam que no fundo […]

    POR: Elder Vieira

    2 min de leitura

          Abri caminho na multidão. No meio da rua feita de poeira seca e vermelha, um pântano engolia um baobá. Na beira do charco, eu – menino ou velho? – em choro lamentoso, me desesperava pelo destino da árvore.

          Homens mergulharam até a cintura no poço lodoso. Não pelo baobá. Acreditavam que no fundo da lama repousava um tesouro.

          A força pública foi chamada para impor a ordem e garantir a propriedade do Estado sobre a riqueza suspeitada, subterrânea e úmida. Um soldado, carregando uma marmita com sopa, veio caminhando animado, desgarrado da tropa, de uniforme cáqui aberto no peito. Confirmadamente menino, emparelhei com ele e lhe perguntei algo. Respondeu-me olhando divertido para um ponto qualquer acima das cabeças. Deu-me sua marmita, que sorvi e desfez-se em minhas mãos. Enquanto isso, soldados massacravam a tiros a multidão que se revoltara. Com um saco plástico vazio na mão direita, vi corpos incrustados no barro, de cara para o sol.

          Despertei em guarda – a luz coada pelas frinchas da janela; a mão amada pousada em meus cabelos.