Abri caminho na multidão. No meio da rua feita de poeira seca e vermelha, um pântano engolia um baobá. Na beira do charco, eu – menino ou velho? – em choro lamentoso, me desesperava pelo destino da árvore.

      Homens mergulharam até a cintura no poço lodoso. Não pelo baobá. Acreditavam que no fundo da lama repousava um tesouro.

      A força pública foi chamada para impor a ordem e garantir a propriedade do Estado sobre a riqueza suspeitada, subterrânea e úmida. Um soldado, carregando uma marmita com sopa, veio caminhando animado, desgarrado da tropa, de uniforme cáqui aberto no peito. Confirmadamente menino, emparelhei com ele e lhe perguntei algo. Respondeu-me olhando divertido para um ponto qualquer acima das cabeças. Deu-me sua marmita, que sorvi e desfez-se em minhas mãos. Enquanto isso, soldados massacravam a tiros a multidão que se revoltara. Com um saco plástico vazio na mão direita, vi corpos incrustados no barro, de cara para o sol.

      Despertei em guarda – a luz coada pelas frinchas da janela; a mão amada pousada em meus cabelos.