E o hábito? Faz o monge?
Carnaval é assim: todo mundo bebendo, pulando e comendo. E come-se tudo que aparece pela frente. Tem purpurina, serpentina e muito homem vestido de mulher. Num destes carnavais o Jacinto resolveu entrar na onda e entrou direto num tubinho vermelho da irmã que era uns quinze quilos mais magra do que ele. Se carnaval não viesse regado a muita bebida, o Jacinto não teria se quer saído na porta de sua casa, mas como o tubinho foi posto num corpo já untado à batidinha de côco, caipirinha e muita cerveja, o nosso amigo não só saiu de casa, como também se juntou ao Bico Doce e ao Beija Flor, desfilaram pela cidade em carro aberto, como se fossem as rainhas da Inglaterra e dirigiram-se a uma festa à fantasia que ia ocorre num clube novo da cidade. Justiça seja feita, o Jacinto até que ficou charmosa naquele tubinho vermelho e naquela sandalhinha pink de sua irmã. De peruca loira e entoando canções da Xuxu, saíram as paquitas em direção ao clube da cidade.
No meio do caminho, já com as garrafas vazias, o irmão do Beija Flor, que dirigia a velha caminhonete, parou para abastecer o carro e nossos amigos no único posto do pequeno município. Daí a coisa saiu do prumo, os três passaram a agarrar os frentistas e insistiam em pegar nas mangueiras para se abastecerem com as próprias mãos. O Jacinto, que havia entornado a maior quantidade de álcool, queria tomar o referido líquido direto da bomba de combustível. O Bico Doce abraçava o frentista e, aos berros dizia: “me pega no colo, me deita no solo e me faz mulher”. Beija Flor, com sua sainha que, esticada, media pouco mais de vinte centímetros, planava pelo posto distribuindo beijinhos e dizendo que era a primeira experiência genética feita com humanos: a mistura de homem, borboleta e beija-flor.
Depois destas cenas cheias de frescuras e muito bem recebida pelos frentistas, que acompanharam as meninas até o carro, o comboio saiu em direção ao ponto de encontro com outros foliões. Acontece que no caminho o irmão do Beija Flor parou em frente ao Clube Municipal, um dos mais chiques clubes da cidade, para ver por que a velha camionete estava esquentando. O Jacinto, achando que era o local da festa, saltou do carro sem que os outros o vissem e se dirigiu para dentro do salão onde todos estavam vestidos normalmente. Chegou no clube feito um gato, de quatro e miando de tão bêbado que estava.
Lá dentro percebeu que era a única mulher de um metro e oitenta. A única que tinha um bigodinho aparecendo e em vez de calcinha, usava uma cueca com o símbolo do palmeiras na frente. Não era a única com os seios artificiais, mas era a única que se tirasse os seios daria para fazer um suco de laranja. Bêbado e perdido no meio daquela multidão, Jacinto até que se saiu bem com seu tubinho vermelho, e lá pelas tantas, se acompanhou de um negrão que lhe encharcava de sprey de espuma e lhe passava a mão crente que estava com a loira mais linda da noite. E digo mais, se este negão não estava mais bêbado do que ele, não se incomodava de ter ao seu lado uma mulher com uma voz mais grossa do que a sua. Sendo assim, o resto da noite foi só a base de sprey de espuma e entoando “quem não chora não mama segura meu bem a chupeta, lugar quente é na cama ou então no Bola Preta".