Autoridade
Domênico tomou um porre e foi pra casa de Ambrósia, doido por uma festa. Chegando lá, deu com as ventas na porta: Ambrósia, além de mandar dizer que não estava, disse que não queria vê-lo mas nem pintado de ouro.
Domênico se encrespou: como é que não tava e não queria vê-lo? Ou tava ou não tava! Mas Vivinha, irmã da moça, não estava ali pra conversê. Que fosse chispando, que Brosinha não iria recebê-lo mas nem morta.
O homem ficou foi macho. Inflou o peito, disse uns três impropérios para o projeto de cunhada, cuspiu no chão e ameaçou invadir. Foi um alvoroço. Ambrósia ligou pra polícia e pro pai. Não demorou muito, baixaram as autoridades. O progenitor já chegou descendo o sarrafo. Embolou-se com Domênico na calçada e foi um deus nos acuda.
Os policiais tiveram primeiro que apartar os dois. Depois de uns safanões e gritos, restou uns pipôcos para o ar. O silêncio estabeleceu-se de pronto. Depois de algumas argüições, Ambrósia foi chamada à baila:
– A senhora pode me explicar o que se passa aqui? – perguntou o oficial.
– Senhorita.
– Senhora, senhorita, trate de se explicar, faz favor.
– Não tem o que explicar.
– Como é?
– É.
– A senhora chama a polícia, diz que tem alguém querendo invadir sua casa, e não tem o que explicar?
– Ué, tem mesmo não. O senhor mesmo já explicou. Esse sujeito aí – e apontou para Domênico – queria por força entrar em minha casa e eu chamei a polícia.
– Ela é minha noiva, seu guarda! – gritou Domênico, já são.
– Era sua noiva! Era! – retrucou Ambrósia.
– Silêncio! – ordenou o policial, para logo se aproximar de Domênico – Primeiro, sujeito, eu não sou “seu guarda”. Nem seu, nem de ninguém. Sou o tenente Braga. Segundo, que ainda não balancei sua jaula. Você só fala quando for chamado na conversa. Terceiro…
Embatucou. O que vinha em terceiro? Porque tenente Braga sempre tinha três razões para tudo. E quando não tinha, inventava.
– Terceiro, todo mundo pra delegacia, que essa sua conversa tá é muito da esquisita.
– Mas, seu guarda…
– Tenente.
– Tenente Braga, eu só queria ver minha… digo, Ambrósia e…
– Eu avisei, minha filha, que isso não valia nada! Eu avisei!
– Ah, pai, lá vem o senhor com esse disco riscado!
– Olha como fala comigo, Ambrósia!
– Calma, paínho, olha o coração…
– Isso é uma desnaturada, Vivinha!
– Desnaturada, eu? Fui eu que larguei as filhas pra viver com aquela uma?
– Brosinha!
– É isso mesmo, Vinha. Esse só sabe é criticar nós, mas não olha pra si.
– Então me chamou por quê?
– Chega! – era de novo o oficial – Todo mundo pra delegacia!
– Tenente – chamou um soldado.
– Que é!
– Não cabe na viatura.
– Chama o camburão.
Pelo amor de deus, seu guarda, isso não é necessário!
– Oxente! E senhor, é quem?
Eu?
– Sim.
O narrador.
– E faz o quê aqui?
Estou só querendo ajudar.
– E alguém lhe pediu opinião, por acaso?
Pediu não, mas eu dou.
– Com ordem de quem?
Do autor.
– E quem é esse cabra que quer mandar aqui mais do que eu?
Tenente? Ô, tenente! Vixe, que o autor matou o tenente, gente!