Num dia desses uma amiga que sonhou com própria morte disse-me pelo telefone: "a morte é a não vida". Então passei uma boa parte do dia pensando nisso e numa cena do filme Guerra de Canudos da Carla Camurati. Acho que cena é assim: a filha que abandona a família, reencontra a mãe em Canudos e tenta demove-la da intenção de resistir ao cerco do exército republicano, então, a mãe diz: "Ninguém vai ficar com aquilo que é meu!" e a filha responde: "Fique com a vida!"

      É, acho que é isso, Fique com a vida. Penso nessa expressão, não sob perspectiva da filha que pretende que a mãe abandone a luta, mas sob a perspectiva da mãe que permanece em Canudos, luta, e morre num seguimento posterior, pois que, se a morte é a não vida, ficar com a vida é fazer aquilo em que se acredita e sente; o que é a negação da própria morte, se considerado que, fazer o que se acredita e sente é a principal garantia de estar vivo.

      Mas, não vou alongar esse texto com detalhes da minha reflexão e dizer que todos também morremos num seguimento posterior e coisas assim, então, pense você leitor; se quiser, se puder, se achar que vale a pena perder seu tempo pensando nalguma expressão sobre a vida e a morte.