Coronel
Sumiram as flores e o coronel ficou ali, banzo, tomado de uma letargia, de uma sonolência pesada. Sua irmã trouxe-lhe uma cadeira, que ele ignorou. Na memória, a voz dela chamando para a janta e os filhos correndo pela casa da fazenda.
Ergueu os olhos e deparou-os com seus domínios. Pensou nas almas sujigadas, nos cabaços deflorados, na ilegitimidade de sua imensa prole. “Uma santa” foi a sentença que lhe veio à cabeça calva. Bobagem. Ninguém é santo, mesmo depois de morto.
“Agora os pedreiros terminam o resto, compadre”, foi a fala de seu primo. Cabra bom, cuidou de tudo – papéis, caixão, tudo. Pena que tenha de morrer. Como todo mundo. Como tudo que é vivo. Foi o homem da vida dela. Como ela se foi, ele precisava de ir também.
Suspirou. Lembrou da viagem para Feira. Lembrou de Denilza. Sorriu – da santidade, do matrimônio, da vida esquisita.