Marterialismo histórico

“A elaboração e a construção da História enquanto ciência, só são possíveis quando embasadas por uma teoria prévia. Sem essa condição não há conhecimento científico histórico possível. As ciências são fruto do fazer histórico e seu limite é o homem, situado historicamente. Nos dias atuais, a discussão no campo historiográfico reflete o que acontece em todo o campo das ciências sociais, como afirma Ciro Flamarion Cardoso: ‘As afirmações correntes hoje em dia da impossibilidade de novas teorias globais e novas teorias holísticas do social, no que vem sendo chamado de fim da história’.

A tese do ‘fim da História’ fornece elementos para os que defendem a impossibilidade de escrever a história. Os teóricos da lingüística fazem a crítica, afirmando que o texto do historiador está pré-formatado de circunstâncias que escapam ao seu controle, pois tem limitações como o discurso, elemento complicador da objetividade. Seria, portanto, impossível fazer uma ‘história objetiva’, pois a influência do historiador é presente e acaba aproximando-se da ficção. Ficaríamos no plano do discurso e os documentos seriam apenas vestígios que garantiriam o acesso ao real.

Os ataques às teorias globais, o apreço pelo relativismo, pela dispersão, repercute na produção historiográfica, que muitas vezes cai no metodologismo, gerando um problema de desqualificação teórica, pois surgem pesquisas sofisticadas, mas com conceitos limitados tão somente a elas, provocando uma história localista, sem articulações com o geral, interessando muito mais ao historiador do que à sociedade.

Nas ciências humanas a ideologia e a política exercem influência não apenas no uso que se faz do saber produzido, mas também durante o processo de produção do conhecimento. O cientista é parte do objeto que ele estuda, pois está analisando um ou vários aspectos de uma sociedade, em nosso caso, do passado, e suas conclusões afetam a vida política, interferem no pensamento de sua época.

É preciso uma estrutura analítica para a pesquisa histórica, baseada no elemento observável e objetivo dos assuntos humanos, independente de nosso juízo de valor. Eis, portanto, a necessidade de uma teoria abrangente, que permita uma análise da história coerente e articulada que acreditamos ser a concepção materialista da história.

A existência de teorias conflitantes na História não elimina seu caráter científico, mostrando, na verdade, a força da ideologia presente na mesma. Assim sendo, devemos nos posicionar claramente e denunciar aqueles que atrás de pesquisas sofisticadas tentam ocultar o caráter reacionário de suas idéias.
O Materialismo Histórico permite fazer a junção entre a teoria e o empírico. Muitos no meio acadêmico afirmam que esta concepção está superada ou sempre foi equivocada”.

Darlan de Oliveira Reis Junior

EDIÇÃO 72, FEV/MAR/ABR, 2004, PÁGINAS 82