Fernando convida Jorge e seus jagunços para um jantar em sua casa. Jorge, olhos claros, sobrenome germânico, presidente de partido, senador da República, chega acompanhado de sua tropa de choque e dispara: “O governo vive uma crise moral”.

      De que governo fala? Do de Fernando, meirinho do FMI, do qual foi ministro? Do de José, o derrotado, que sequer chegou a governo? Do de Geraldo, o ilusionista? Governos, ou projetos de governos, que venderam o país por moedas podres, que nos deixaram no escuro e incomunicáveis?

      Não. O governo em tela é o de Luiz, o operário. Para Jorge, não pode haver moral num governo composto de trabalhadores, sem-terra, comunistas, ambientalistas, intelectuais, artistas, médios empresários. Governo de povo, enfim, essa categoria difusa a qual pertencem esses brasileiros de quatro costados, filhos daqueles escravos que seus antepassados um dia açoitaram; daqueles conjurados e abolicionistas que foram enforcados ou deportados para o esquecimento dos livros didáticos. Essa gente não tem moral pra governar o país. Essa gente deixa o mercado com os nervos à flor da pele.

      Jorge, nome de santo guerreiro, branco, católico-apostólico-romano, matador de dragões, anda ultimamente muito amigo de Artur, o falastrão, que também porta nome de guerreiro – rei, é verdade, mas nada santo (é que esse, ao invés de liquidar dragões, comeu a própria irmã e matou o filho que teve com ela). Essa amizade tem dado o que falar. Dizem por aí que eles andam muito interessados nas opiniões de um certo Leonel, vulgo Pêndulo, que um dia está de bem com Deus, no outro, vai ao puteiro com o Diabo. Embora considerem o sujeito um tanto gagá, acham que, neste momento crítico da vida nacional, o velho projeto de caudilho pode ser útil. Basta massagear seu ego. 

      Já Fernando, corretor do patrimônio público (meirinho do FMI é muito forte, concedamos), anda se achando o estadista. Seu pupilo José, também conhecido como Boca de Chupeta, não cansa de dizer que seu governo foi o que de melhor o povo podia querer e etc e tal – o que envaidece seu mestre e tutor. No entanto, o complexo de pavão do príncipe da Sorbonne está na razão direta da ilusão de que é o grande articulador da oposição ao governo de Luiz. Mal sabe ele, ou faz que não sabe, que um outro George, morador do andar acima do seu, embora inepto e obtuso, é que é o síndico de seu condomínio de falsários.