Vivemos num mundo perigosamente dominado por um império insano, uma superpotência que decidiu fazer a guerra aos povos para assegurar a sua hegemonia. Transcorre uma época cruenta, caótica, caracterizada por uma sucessão de transtornos, caos e ameaças à segurança e à paz. A própria sobrevivência da humanidade encontra-se ameaçada. Não sabemos se em alguma outra época precedente o gênero humano já viveu crise como a que estamos presenciando.

Há pouco mais de um ano, caía o último bastião de uma então surpreendentemente frágil resistência iraquiana em face das tropas agressoras norte-americanas e ruía o regime de Saddam Hussein. A imagem grotesca de um punhado de “populares” – a olho nu era possível contá-los nos dedos mesmo num écran de pequenas dimensões – derrubando a estátua do presidente deposto, correu mundo como símbolo da “libertação nacional” do Iraque. Meses depois a prisão de Saddam num oco subterrâneo, divulgada em imagens repetidas à náusea pelos mesmos meios de comunicação, era festejada como a consolidação suprema do triunfo americano, o selo de garantia da reeleição de Bush e o ponto culminante de sua missão saneadora no Iraque. Faltaria apenas a democratização do país, através de eleições, da “entrega do poder” aos iraquianos e da constituição do “governo” local. Quatro meses depois, respondendo a uma aguda crítica do senador democrata Ted Kennedy, para o qual o Iraque se tornou no novo Vietnã dos Estados Unidos, o secretário de Estado Colin Powell chamou-o de antipatriótico, porque… “Estamos em guerra”. Sem querer o secretário do governo Bush confessava uma dentre muitas deliberadas mentiras que serviram e servem de manto ao comportamento político da atual administração norte-americana, qual seja: suas tropas estavam sendo recebidas como libertadoras; e, primeiro com queda, depois com a captura de Saddam, o Iraque se pacificava e caminhava para a democratização. Eis que os maiorais do governo imperialista são obrigados a confessar, um ano depois da proclamada vitória: “estamos em guerra”.

Nós outros, que sempre nos opusemos a essa guerra criminosa e suja, vamos mais além da mera constatação para afirmar que não só estão em guerra, guerra contra o povo, guerra por saque de riquezas, no caso o petróleo, guerra por posições estratégicas, tendo em vista o conjunto do Oriente Médio e da Ásia Central e Oriental, guerra pelo domínio do mundo, guerra para enfrentar os problemas decorrentes da sua agonia lenta como potência imperialista, para tentar escapar às suas inarredáveis fragilidades estruturais, como estão sendo derrotados nessa guerra.
E esta é a grande novidade da conjuntura e é o ponto que merecia detida reflexão das forças antiimperialistas.

É preciso captar esse sinal da conjuntura como a senha de que se inicia uma nova fase na existência do imperialismo, porquanto a percepção da derrota torna-o inevitavelmente mais agressivo, infinitamente mais agressivo. Se isto for verdade, há de ter repercussões relevantes na estratégia e na tática da luta antiimperialista.

Sob qualquer ângulo de análise, não há como negar: a estratégia imperialista norte-americana no Iraque fracassou, como vem fracassando também – poucos falam disso – no Afeganistão. A colossal concentração de tropas, o emprego maciço da aviação e de armas as mais modernas foram suficientes para cumprir a primeira etapa da batalha – derrubar o regime de Saddam. Embriagados com a vitória, na época os apologistas do imperialismo tripudiaram sobre os que erroneamente previram que a tomada de Bagdá se assemelharia à batalha de Stalingrado e apostavam num desfecho diferente. Vistas as coisas com serenidade e distanciamento, hoje sabemos ser impossível uma Stalingrado, como metáfora de resistência prolongada naquele cenário de batalha. Diversa, porém, é a situação a um ano do desfecho da agressão.

A Resistência não só aconteceu, como se impôs. O Pentágono contabiliza quase um milhar de mortos e milhares de feridos em suas fileiras. É quase nada em face das dezenas de milhares de iraquianos, inclusive civis, que o Exército americano assassinou, mas são perdas pesadas em se tratando de um exército “vencedor” e levando em conta que durante a guerra de março-abril de 2003 morreram apenas pouco mais de uma centena de americanos. Desde 9 de abril do ano passado, quando caiu a última fortaleza de Saddam, não passou um dia sequer sem que comandos e tropas norte-americanos fossem atacados e sem que os colaboracionistas pagassem o preço pela traição à pátria. O chamado Conselho de Governo, um amontoado de fantoches escolhidos a dedo pela Administração colonial, é odiado pelos patriotas e ignorado pela população. Simplesmente suas instituições não funcionam, além de serem alvo de ataques, mormente a polícia. Os efeitos da Resistência sobre a soldadesca americana e da chamada coalizão são devastadores. Mais de um milhar de soldados e oficiais já receberam tratamento psiquiátrico, o número de suicídios se elevou a mais de 30 e dezenas de desmobilizados que retornaram à casa assassinaram suas mulheres e filhos.O Pentágono toma medidas para substituir integralmente até o final de maio os 110 mil soldados que constituíam o exército à época que o regime de Saddam foi derrubado.

Tudo isso ocorre a despeito de o exército invasor estar cometendo crimes e todo tipo de violações dos direitos humanos e das convenções de guerra, atacando populações civis e torturando prisioneiros. O Exército de ocupação bombardeou com mísseis diversas cidades iraquianas – Sadr, Adamiya, Fallujah, Shula, Najaf e outras. É que nessas cidades, como em todo o Iraque instalou-se uma inimaginável resistência. O cenário das duas semanas anteriores era de uma generalizada insurreição popular, que cobrou força e amplitude e revelou o heroísmo das massas populares em luta, como é comum ocorrer em situações semelhantes.

Não é de terrorismo que se trata, como pretende a mídia a serviço da Casa Branca. Por mais que o ser humano reaja com asco ante as imagens de corpos calcinados de soldados e oficiais dos exércitos de ocupação, é preciso ter coragem e frieza para dizer, como o escritor paquistanês Tarik Ali, autor de Bush na Babilônia – a Recolonização do Iraque, que não se pode esperar uma resistência bela a uma ocupação feia, a menos que se pretenda viver num cenário de um filme hollywoodiano ou de uma comédia italiana.

O que está em tela no Iraque é a luta contra a ocupação, a preponderância em diversas camadas da população da aspiração de restaurar a soberania do país, através dos atores mais diversos e do emprego de múltiplas formas de luta que vão da resistência passiva, das manifestações de massas até ousadas ações de guerrilha urbana e rural e o levantamento de cidades e regiões inteiras como agora ocorre. Quanto às forças da resistência, o jornalista francês Patrick Theuret, editor da revista Correspondências Internacionais, localiza 15 grupos de diferentes tipos e orientações, entre organizações laicas e religiosas, o Partido Baath, forças nacionalistas diversas, e correntes comunistas que se opõem à posição colaboracionista adotada pelo partido comunista. Uma resistência assim tão diversa terá em seu seio até forças retrógradas e anticomunistas, como algumas correntes do sunismo e do chiismo. Mas não podemos incorrer no erro de analisar a resistência iraquiana segundo figurinos preestabelecidos ou pretendendo que repita experiências históricas vividas em outros momentos e latitudes. O mesmo ocorre no Afeganistão, onde a resistência antiimperialista aglutina forças desde os talibãs até os comunistas. Não esperemos tampouco que surja tão formosa como Atenas da cabeça de Zeus uma plataforma de união nacional com pontos bem alinhavados e objetivos estratégicos claramente definidos.

Por ora esperemos da resistência iraquiana apenas o que ela é: uma reação legítima ao ocupante. E saudemos os avanços que já alcançou em termos de unidade de ação, bem como seus êxitos no campo de batalha. Apoiá-la é nosso dever fundamental, como partido comunista revolucionário, como frente política de centro-esquerda em formação e como governo progressista de coalizão de forças democráticas e nacionais. As necessárias boas relações que nosso país necessita cultivar com todos os países do orbe inclusive os Estados Unidos não são incompatíveis com uma serena e firme posição de nossa diplomacia nos organismos internacionais contra a odiosa ocupação de um país imperialista sobre outro. E nos preparemos como analistas da situação mundial, e militantes da causa antiimperialista, para inscrever por muito tempo em nossa agenda a luta contra a ocupação do Iraque.

Pode durar décadas. Há 50 anos a Palestina martirizada se debate sob o guante assassino dos sionistas israelenses e malgrado inúmeros “planos de paz” e reiteradas resoluções da ONU mandando Israel se retirar para suas fronteiras a questão palestina só faz se agravar, com o seu povo hoje ameaçado de extermínio. O Vietnã precisou de 15 anos para vencer na guerra de libertação nacional contra o imperialismo norte-americano. De quanto tempo o Iraque necessitará não sabemos. Mas para nós está claro ser impossível no mundo de hoje uma potência agressora manter-se incólume exercendo um regime de ocupação, por mais forte que seja.

O governo Bush se encontra empenhado agora em organizar o governo fantoche local. Precisa desesperadamente parar a resistência e tirar a questão iraquiana da agenda eleitoral. Há uma profusão de arranjos institucionais e de maquinações para encenar a participação, decerto não desinteressada, da “comunidade internacional” na “transição” iraquiana. Não têm faltado prestimosos colaboradores que agora cinicamente preconizam um “novo papel” para a ONU. Mas há algumas questões essenciais sobre as quais não nos podemos permitir equívocos. A Constituição iraquiana é uma contrafação, o governo local será um governo fantoche, sua soberania será letra morta, porquanto atuará sob tutela norte-americana e debaixo de ocupação militar. Não merecerá reconhecimento internacional. Os Estados Unidos não fizeram a guerra por nada. Não foi simplesmente, como proclamam em deliberada mentira, para afastar do poder um ditador, nem para destruir o arsenal de armas de destruição maciça. Se Comunidade Internacional houvesse, os Estados Unidos teriam de ser sancionados, pois foram organismos oficiais do sistema das Nações Unidas que atestaram a inexistência de tais armas no Iraque.

Bush foi à guerra com o objetivo estratégico de reforçar a presença militar estadunidense na região do Golfo Pérsico-Arábico e Oriente Médio, onde se encontram dois terços das reservas petrolíferas mundiais e para conquistar mais terreno em sua luta pelo domínio absoluto do globo. Não é para pacificar, democratizar ou para conceder soberanias que os Estados Unidos consignaram para o exercício de 2003-2004 a colossal cifra de 500 bilhões de dólares para despesas militares –mais do que um PIB brasileiro, ou a mesma soma que gasta com armamentos e forças armadas o resto do mundo.

Eram falsas as expectativas de que a guerra no Golfo traria paz e segurança ao mundo. Um ano depois, o mundo é um lugar mais inseguro e a guerra somente estimulou mais o terrorismo, longe de combatê-lo ou neutralizá-lo. Foi mais uma mentira de Bush.

Esses fatos estão relacionados com a opção da Casa Branca de pôr a guerra no centro da sua atividade internacional, eliminando na prática a diplomacia. Nossa análise tem que considerar esta questão como essencial para a compreensão do conjunto da situação.Trata-se de uma tendência que se vem delineando desde a chamada era Reagan, nos anos 80, expressou-se de forma diversa nos anos 90 (primeira guerra do Golfo, guerras da Somália, Bósnia e Kossovo) e se plasmou em definitivo com a assunção do poder pelo grupo ultraconservador de Bush-Cheney-Wolwowitz. É importante derrotá-la nas eleições deste ano, pois a reeleição de Bush lhe dará crédito para dar novos passos na aplicação de semelhante estratégia. O pano de fundo dessa tendência é o surgimento do mundo unipolar, a chamada novíssima ordem, que sucede à ordem do pós-segunda grande guerra marcada pela guerra fria e pela divisão do mundo em esferas de influência da URSS e dos EUA. Mas esses fenômenos estão ligados também ao que se pode chamar de paradoxo de nossa era. É que o momento mais vertiginoso do exercício da supremacia norte-americana, a época em que parece natural a sensação do poder absoluto, porque de fato os EUA reinam sozinhos e é colossal a sua força, corresponde também ao de exibição de sua fragilidade estrutural e de seu declínio histórico. Não seremos tão otimistas como o filósofo e historiador britânico Eric Hobsbawn, um dos maiores de seu tempo, para o qual não a nossa, mas a próxima geração verá a derrocada desse império; mas seremos enfáticos ao repisar e salientar as evidências de tal declínio.

A doutrina atual da Casa Branca e a agressividade com que se comporta o imperialismo decorrem da urgência que tem esse imperialismo de encontrar uma resposta ao seu declínio estrutural. Os déficits colossais nas contas externas americanas; a queda continuada e acentuada do dólar; a perda de terreno relativa da economia americana em face das concorrentes e a hoje admitida (sem autocrítica dos que defendiam até bem pouco outro ponto de vista) impossibilidade de espontaneamente o mundo financiar o déficit americano; e a manutenção da supremacia do dólar – são manifestações aparentes do fenômeno que devemos estudar com espírito reflexivo e agudo, pois somente da compreensão precisa desse fenômeno será possível extrair adequadas conclusões políticas e iluminar a nossa estratégia.

O ambiente de instabilidade que tem por foco o Oriente Médio se complica ainda mais com a deriva de violência que marca a ação do governo israelense de Ariel Sharon. No centro da sua estratégia, que conta com o beneplácito explícito de Washington, está o extermínio do povo palestino, para o que é necessário cumprir a etapa do aniquilamento da Autoridade Nacional Palestina, à frente Arafat, e das principais lideranças políticas, militares e religiosas da resistência palestina.

De tudo o que foi dito até aqui, extraímos a conclusão de que entra para a ordem do dia da atividade política internacional do nosso Partido e do movimento progressista no Brasil a luta pela paz e contra a ocupação imperialista no Oriente Médio, compreendendo, cada qual com sua especificidade, o Iraque, o Afeganistão e a Palestina. E não se trata meramente de hipotecar solidariedade (o que já é grande coisa), mas de pautar uma luta estratégica e de longo prazo. Diríamos mesmo que a luta pela paz e contra a política de guerra e de ocupação imperialista estará no centro de nossa atividade talvez durante décadas. Esta luta é inseparável da que propugna uma nova ordem internacional, um novo sistema internacional, baseado no multilateralismo, no redesenho e na mudança de caráter e forma dos organismos internacionais.

Devemos destacar como fato saliente da conjuntura o isolamento das posições norte-americanas e a derrota da política dos fautores e defensores da guerra. Nunca como agora o imperialismo norte-americano sofreu tamanho isolamento diplomático e político. Deixou profundas marcas nas relações entre as potências a recusa de Alemanha, Rússia, França e China a apoiar a decisão norte-americana de ir à guerra. Como também deixa e deixará marcas a derrota sofrida pelo direitista governo espanhol, de José Maria Aznar, um dos mais declarados sabujos do imperialismo na Europa. A decisão do novo presidente do governo espanhol, José Luís Zapatero, de retirar os seus soldados do Iraque é uma conquista do movimento antiguerra e da luta democrática do povo espanhol e em toda a Europa.

Atestam também a derrota americana as defecções na coalizão agressora depois da decisão do novo governo da Espanha. Ainda é cedo para detectar o aparecimento de nova tendência política na Europa, mas quiçá a derrota da direita na Espanha possa ser o começo de um longo processo de inversão de correlação de forças no velho continente, que há de levar de vencidos os governos pró-americanos de Blair, Berlusconi, Durão Barroso e outros. Por outros motivos, depois da Espanha pronunciaram-se na França fortes sinais de retomada de posições democráticas, nas eleições regionais, em que a centro-direita foi duramente castigada nas urnas em decorrência da política anti-social e antioperária que leva a efeito, consubstanciada em reformas de corte neoliberal nos sistemas legais previdenciário e laboral, mostrando assim que mesmo com uma política externa aprovada pela maioria dos franceses e mesmo sendo ainda recente o apoio recebido por Chirac no embate com a extrema-direita, quando é esclarecido, o eleitorado não perdoa governos conservadores nas áreas econômicas e sociais. Pelo menos tem sido assim na Europa, quando os direitos dos trabalhadores são atacados pelo neoliberalismo. Tem sido assim também na América Latina, onde ainda ecoa com força o estrépito da queda de Fernando de La Rua.

Outro aspecto saliente da situação mundial é a nova luta dos países em desenvolvimento contra o protecionismo dos países ricos e por uma nova ordem econômica mundial, que teve como expressão destacada a reunião da OMC em Cancun e os embates nela conduzidos pelo Brasil e de que participaram também China e Índia e resultaram na formação do G-20. Numa conjuntura econômica marcada por dificuldades generalizadas e pelo fracasso do neoliberalismo, esta luta tende a marcar a conjuntura por muito tempo. Terá muitos desdobramentos, altos e baixos. Fiquemos atentos para a próxima reunião da UNCTAD e do G-77 a se realizarem brevemente em São Paulo, no mês de junho.

Debrucemo-nos agora rapidamente sobre o quadro em evolução na América Latina, onde foi mais patente o fracasso do modelo neoliberal – do que são contundentes exemplos a Argentina, o México e o Brasil. A insistência nas políticas ortodoxas pode conduzir à ruína os países que a adotam sendo, pois, preocupante que o nosso país, sob governo politicamente progressista, permaneça com a mesma orientação que levou ao afundamento da Argentina.

Reflexo dessa situação de fundo, responsável por uma crise social sem precedentes, a AL tem sido nos primeiros anos deste século palco de grandes lutas, nas quais se prenunciam importantes mudanças. Aqui confluem para o mesmo leito lutas pacíficas de massas, embates eleitorais, levantes espontâneos, insurreições e mesmo uma guerra civil, como a da Colômbia. Desse ambiente surgiram governos progressistas como o de Lula e de Chávez e o novo governo da Argentina, encabeçado por Nestor Kirchner que, saído embora do mesmo sistema político-partidário dominante, opõe certa resistência às orientações neoliberais.

Com suas atenções e forças concentradas nas guerras de ocupação do Oriente Médio e Ásia Central o imperialismo norte-americano não tem dedicado a atenção de outros tempos ao subcontinente latino-americano. Pelo menos foi o que afirmou o secretário de Estado Colin Powell, segundo o qual, a AL no momento não é prioridade da política exterior estadunidense. Mas não há como escamotear o fato de a AL fazer parte dos planos estratégicos permanentes do imperialismo norte-americano por razões óbvias. No eixo de sua atenção no momento estão: o combate à Revolução Cubana, a desestabilização, através de ingerências golpistas – até agora todas fracassaram – do governo bolivariano de Hugo Chávez, o esmagamento da luta guerrilheira na Colômbia, a imposição da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) como instrumento neocolonialista e a neutralização do Brasil e da Argentina como pólos potenciais de resistência política e econômica às políticas neoliberais. A presença de tropas no Haiti indica que os EUA não dispensam pouca atenção à América Latina.

Nossas tarefas concernentes à América Latina consistem em manter a solidariedade a Cuba e à Venezuela, apoiar os esforços da diplomacia brasileira para consolidar o Mercosul e integrar o subcontinente sul-americano e o decidido combate ao plano neocolonialista da Alca. É um sofisma supor que para acessar o mercado norte-americano será necessário assinar a Alca. O Brasil não deve assinar o acordo. Compreendemos a posição do nosso governo e apoiamos todas as manobras protelatórias e inviabilizadoras da Alca levadas a efeito por nossa diplomacia, mas insistimos: o Brasil não deve assinar a Alca. Esta é a expectativa e a posição dos movimentos patrióticos e progressistas em toda a América Latina, bem como das forças nacionalistas, populares e de esquerda no Brasil. O verdadeiro esforço pela integração da América Latina, para o qual o governo do presidente Lula em muito tem contribuído, é incompatível com a Alca.

*José Reinaldo Carvalho é jornalista, vice-presidente do Partido Comunista do Brasil e secretário de Relações Internacionais, autor de Conflitos Internacionais num Mundo Globalizado (Ed. Alfa Omega, 2003) e A Luta antiimperialista versus a Hegemonia Norte-Americana (2004).

EDIÇÃO 73, MAI/JUN/JUL, 2004, PÁGINAS 8, 9, 10, 11, 12