Parado na calçada,
Voltei meu olhar ao alto.
Os que por ali passavam, curiosos com meu gesto,
Também lançaram a visão ao infinito.

Era dezembro e no céu
Apenas o rumor de nuvens escuras, em fuga.
Com o olhar inquiriam-me,
O que então eu mirava.
Decepcionados, gesticulavam os ombros,
Como se exclamassem:
– Deve ser um louco que se põe a contemplar o nada.

O milagre que via, eles não enxergavam.
Antes naquele ponto da avenida, só lixo havia.
Agora, entre a terra e o céu os operários ergueram
Uma gigante e bela criatura,
De pele branca e uns duzentos olhos azuis.

As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).