"Volver a los diecisiete" é uma canção de Violeta Parra, também o título de um livro da mesma autora, que ainda não li, mas que certa vez encontrei na mão de um eleitor de Lavín num sebo em Santiago. Eu fazia campanha para Gladys Marín (Partido Comunista Chileno), e Lavín tinha o apoio aberto de Pinochet. O debate que se seguiu talvez tenha influenciado o nobre eleitor a comprar o único exemplar do livro em que eu estava interessado. Quando saiu, continuei ouvindo "Let it be" apegado a uma narrativa exemplar sobre os Vietcongs: "quando de manhã, de cara enterrada na lama deixavam-se pisar pelas botas dos inimigos a quem matariam à tarde".

      Violeta Parra, Beatles e Vietcongs todos — estão na minha caixa de memória de nome "aos dezessete". "Voltar aos dezessete" é quase inevitável, e mais, para quem vive na mesma cidade de quando tinha dezessete anos. Os lugares atuam como uma espécie de "Madeleine" de Proust, atando pontas entre o passado e o presente, às vezes promovendo um acerto de contas entre a ignorância e o conhecimento, entre o sentir profundo e o sentir apenas. Foi assim que num dia desses encontrei uma velha parede da memória, antes branca, caiada, agora com um enorme desenho grafitado — um deserto com plantas de galhos retorcidos no qual um dragão e um cavaleiro apresentam-se para o combate.

      O dragão é exuberante, rubro de olhos esverdeados, de peito amarelado com uns tons de cinza marcando as vértebras. Está com as asas abertas e das pontas saem sabres da cor dos dentes, brancos como o marfim. Do outro lado avança o cavaleiro, um esqueleto trazendo um elmo sobre a cabeça e alçando uma espada deformada. O cavalo negro tem uma expressão ameaçadora e um dos pés do cavaleiro que aparece pela direita é um pé de cabra tal como o descrito na literatura medieval como pertencendo ao demônio. Quase deu vontade de interpretar, de decifrar os signos.