Era uma vez um Lobo Mau, uma menina com uma toca vermelha e sainha rodada que gostava de ser chamada de Sainha Vermelha mas, como herança de sua infância, acabava mesmo, era sendo chamada de Chapeuzinho Vermelho, uma Vovozinha e uma mãe que ninguém conhecia, mas que desde de muito tempo, dizia para Chapeuzinho: Cuidado, não fale com estranhos. Por causa deste conselho, Chapeuzinho – para reduzir vamos chamá-la apenas pelo primeiro nome – nunca conheceu ninguém e por isso vivia solitária e com a mão amarela – este amarelo aí não é literal é simbólico, acho que vocês me entenderam.

      Porém, no entanto, contudo, todavia, existia o tal Lobo Mau. Este era chamado de mau pois não dava sossego pra nenhuma mocinha da vila, caia matando, estava sempre em cima, chegava junto. Para ele não tinha tempo ruim, deu mole ele se apresentava duro.

      Todos o conheciam, inclusive a Chapeuzinho, sua mãe e a Vovozinha. Sobre esta nós ainda não tratamos com mais cuidados. Pois vamos lá. Esta tal Vovozinha era uma velha safada, já passava dos trezentos anos, mas não se desgrudava de uma sainha minúscula e seus preciosos saltos altos. Sempre rebocada de ruge e batom, andava pela cidade exibindo suas varizes. Se insinuando para tudo que é lobo, gostava mesmo era do tal Lobo Mau. Este por sua vez, comia tudo que era menininha, mas não tirava os olhos de cima da Chapeuzinho. Ela a muito tempo sentia o clima, quando o via, ficava vermelha, os bicos dos peitinhos se enrijeciam e acabava molhando o tornozelo – sabem como é, vilinha do interior, não tem asfalto, chove enche de poças de água, as meninas pisam e molham o tornozelo. As que pisam mais são as que já passaram da puberdade.

      Continuemos. A Vovozinha que não admitia concorrência, surpreendeu o Lobo Mau jogando charminhos para cima da Chapeuzinho. Ela que não era boba nem nada, foi logo falar com a mãe da menina.

      – Olhe aqui não quero saber de minha neta falando com estranhos, principalmente este lobo.

      – Eu sei minha mãe Vovozinha. Dou este conselho, que você me pediu para dá-lo, desde que ela tinha cinco aninhos.

      – Pois deve continuar dando, principalmente agora. Aumente a dosagem. Algo como três vezes ao dia. Uma vez a cada refeição. E completemente dizendo: Principalmente o tal Lobo Mau.

      Depois disto a Vovozinha foi até o Lobo Mau e o encostou na parede.

      – Olha aqui seu comedor de ovelhas, não vem com estas garras afiadas para cima da Chapeuzinho não! Ouviu? Antes de pegá-la, você vai ter que me pegar primeiro.

      – Tô fora maluca! Tá achando que eu achei no lixo? Seria até pecado.

      E assim passaram os dias. Porém, água morro abaixo, fogo morro assim e mulher quando quer dar, uma voltinha com um lobo, ninguém segura. Principalmente quando quem está segurando, também está no páreo.

      Deste dia em diante a Chapeusinho, não tirou mais o Lobo da cabeça.

      Um dia o Lobo Mau achou que já era hora de entrar solando na tal Chapeuzinho e, sem que ela se desse conta, chegou todo manhoso.

      – Para onde vais menininha dos cachinhos dourados? Esperou a resposta e nada. Não perdeu o rebolado. Perguntou de novo.

      – Posso saber para onde está indo esta preciosidade esculpida pelo mais formidável e criativo escultor de todas as redondezas?

      Como não recebeu resposta foi mais direto.

      – Por que não falas comigo menina da cor de mel.

      – Minha mãe sempre me disse, desde que eu tinha três anos: Nunca fale com estranhos. E agora ela acrescentou: Principalmente com um tal Lobo Mau. E aumentou a dosagem. Agora são…

      – Tá tá tá! Tudo bem. Lobo Mau de Albuquerque Pereira ao seu dispor. Não sou mais um estranho e também não sou mais só Lobo Mal. Agora que nos conhecemos, que tal irmos pelo caminho dos becos. É mais rápido e não terá perigo, eu te acompanho.

      Aí a Chapeuzinho o surpreendeu.

      – Olha aqui Lobo, estou cansada de todos acharem que eu ainda sou uma criança e ficarem me tratando como tal. Estou muito a fim de ficar contigo e, como você é um cara experiente, é com você que eu quero conhecer todos os caminhos desta vila. Porém há um problema, a Vovozinha. Sei que ela está afinzona de você e, como neta dela, não posso fazer isto com a velhota, mesmo sabendo que é uma sacana e que tentou me afastar de você. Por isso vai vazando que estou atrasada e tenho que ir.
Ela foi e o Lobo Mau lá ficou boquiaberto e impressionado com aquela menina que o descartou como nunca ninguém o tinha feito. Isto, porém o deixou ainda mais excitado e decidido: ia comer aquela menina!

      Pegou um atalho e chegou à casa da Vovozinha. Lá estava a velhota só de pijama e toca vendo a novela das oito com uma cervejinha do lado. O Lobo Mau, sabendo que não tinha muito tempo foi logo descarregando:

      – Olha aqui Vovozinha. Estou disposto a fazer um acordo. Você disse que eu só pegaria Chapeuzinho se pegasse você primeiro. Certo?

      – Certo.

     – Então nós nos atracamos agora mermo e você me faz uma carta dizendo para Chapeuzinho que não quer mais nada comigo. Falou!?

      – Falou! Onde eu assino?
 
      – Pega aqui a caneta. E deu uma risada sacana.

      O Lobo, que estava faminto, pegou a cortina da sala, pôs na cara da Vovozinha e foi logo comendo.
Acabado o dever estava pronto para o prazer. A Vovozinha, terminada a carta, foi para a Barriga do Lobo, um barzinho da vizinhança que passava a noite lotado. Com a casa vazia, o Lobo ficou a vontade. Colocou a carta sobre a mesa e deitou na cama da Vovozinha esperando a Chapeuzinho.

      Chegou a menina. Bateu na porta e ouviu uma voz grave dizer entre. Ao entrar já avistou a carta. Leu e sentiu um calor subir por sua coluna vertical. Seu rosto aqueceu, um frio no estômago sentiu e devagarzinho se aproximou da cama. Como se realizasse um sonho erótico foi logo dizendo.

      – Como você está diferente Vovozinha. Que olhos grandes são estes?

      – É para te ver todinha minha netinha.

      – E que nariz grande é este?

      – É para te cheirar todinha.

      – E que boca grande é esta?

      – É para te beijar todinha.

      – E que dedo grande é este Vovozinha.

      – É para… Dá para acabar a historinha agora? Precisamos ficar sozinhos. Será que dá? Tô falando cas parede?