A carta – capítulo 17
Zona de garimpo. Nú, cotovelos no batente da janela do puteiro, ele fuma e pensa. Rememora uns olhos alegres de menina, umas carnes roliças de mulher e o menino montado na mula a caminho da feira. Uma sujeita meio gorda sai do banheiro e se espanta:
– Oxente, tá aí ainda?
– Por que a pressa? – indaga ele, voz baixa, sem se virar.
– É que tem fila, meu filho!
Deu uma longa e funda tragada. Amassou a guimba no mesmo batente em que se apoiava. Endireitou o corpo magro, feixe de nervos; girou sobre os calcanhares rachados e mirou sério o rosto da quenga.
– Que foi? – perguntou ela, insolente, mãos nos quadris vastos.
Em silêncio, ele deu a volta na cama, foi até a porta do quarto, deu uma segunda volta na chave e retirou-a da fechadura.
– O qué que você tá fazendo? – inquiriu a moça, alarmada.
Ele então dirigiu-se até a cabeceira da cama, pôs a chave no bolso da camisa. Tomou da calça e puxou-lhe o cinto. Dobrou-o ao meio. A rapariga correu se trancar no banheiro. Ele meteu o pé na folha de madeira, que partiu-se em duas.
A coitada foi encontrada mais tarde no box do chuveiro, inconsciente, nua, toda marcada. No quarto, o lugar mais limpo.