“O governo FHC ignorou as necessidades de São Paulo”
Como as questões nacionais se tornam concretas no município de São Paulo?
Marta Suplicy – O bom relacionamento político entre a cidade de São Paulo e o governo federal é de vital importância para que consigamos implementar na cidade alguns programas sociais e projetos diversos.
Alguns críticos dizem que, com o atual governo federal, as cidades petistas estão sendo as mais beneficiadas com a liberação de verbas. Em primeiro lugar, isso não é verdade. Mas vale lembrar que somente agora a maior cidade do Brasil – e a que paga mais impostos – tem recebido o tratamento que merece.
O governo federal anterior ignorava as necessidades de São Paulo e negava ajuda. Um exemplo ilustra esse descaso: segundo o IBGE, São Paulo tem metade das favelas do Brasil. O governo FHC liberou R$ 1 bilhão para a urbanização de favelas. Nem um centavo veio para a cidade.
Além disso, as políticas econômicas e sociais impostas pelos governos anteriores prejudicaram diretamente a maior cidade brasileira. As medidas de privatização, desregulamentação e abertura indiscriminada da economia tornaram o país refém dos fluxos internacionais de capital, dependente de altas taxas de juros para preservar o equilíbrio de suas contas e do espaço geopolítico de um sistema apoiado sobre a especulação financeira.
O governo Lula, infelizmente, herdou esse passado social e econômico sombrio. Agora, tem se empenhado para mudar o quadro. A cidade de São Paulo também foi abalada e, graças à cooperação hoje possível entre governo federal e municipal, estamos conseguindo reverter as conseqüências negativas da ausência anterior do Estado.
Quais são – resumidamente – as principais políticas em andamento na cidade e os principais elementos do programa de reeleição?
Marta Suplicy – Desde que assumi a Prefeitura, houve várias alterações estruturais. Em primeiro lugar, começamos a descentralização do governo. A mudança de administração regional para subprefeitura não é só política, mas administrativa. A população perceberá uma Prefeitura mais ágil para responder às demandas.
A segunda foi o projeto do novo sistema de transportes, que traz idéias ousadas e inteligentes. Ter ônibus trabalhando em linhas-tronco, terminais, englobar microônibus, usar estações de transferência e faixas exclusivas à esquerda, além do Bilhete Único.
Os programas sociais são outro ponto. A fase inicial foi realizada habilmente: em vez de serem estendidos por toda a cidade, programas como o Renda Mínima e o Começar de Novo foram concentrados em algumas comunidades da periferia (as mais pobres e com maior índice de violência). Isso criou um ganho de renda para as famílias beneficiadas e teve efeitos instantâneos na evasão escolar e no comércio local, entre outros indicadores.
O quarto ponto é o programa educacional, com uniforme, material, transporte e refeições dobradas. Isso faz uma diferença enorme para os moradores da periferia. Inauguramos 21 CEUs (Centros de Educação Unificados) com creche, escola de ensino infantil e ensino fundamental, piscina, quadras, teatro e cinema. Ao todo, foram abertas 200 mil vagas em toda a rede municipal, sendo 50 mil só nos CEUs.
O restabelecimento da autoridade talvez seja o maior dos patrimônios que conseguimos resgatar. São Paulo era uma cidade desmoralizada. Em todo o país lia-se sobre o governo municipal nas páginas policiais. Isso mudou completamente. Há um governo sério, democrático e respeitado, instituído na cidade. Não há mais corrupção nos altos escalões, todos os casos denunciados são investigados pela Ouvidoria e os responsáveis punidos, e a cidade reconquistou o respeito frente aos demais municípios, aos governos estaduais e federais. E mais: inseriu-se de maneira determinante e irreversível no cenário político mundial.
A principal meta para um próximo governo é dar continuidade e ampliar todos esses programas importantes implantados nesses quatro anos de governo, que foram planejados no sentido de atender aos interesses da cidade e de todos os cidadãos das mais diferentes regiões da capital e de todas as classes sociais. Vale citar: ampliação dos programas sociais; implantação de mais 24 CEUs (hoje são 21 em funcionamento); extensão do conceito de educação inclusiva e integrada para toda a rede escolar de modo que cada grupo de EMEIs e EMEFs seja contemplado com espaços de cultura e esporte, formando a rede CEU de educação do município; amplo programa de construção de creches; construção de 35 novas unidades básicas de saúde; implantação de 40 policlínicas (centros de diagnóstico e de atendimento); manutenção do programa de Passa-Rápido e construção de novos corredores para reduzir o tempo que a população gasta no transporte; manutenção do Bilhete Único e integração com o Metrô; prosseguimento do programa de recuperação do Centro e dos programas habitacionais.
A continuidade dos programas já implantados é essencial para construirmos uma cidade de São Paulo que atenda aos interesses de todos os cidadãos paulistanos: uma cidade mais justa socialmente, com um sistema de saúde e de educação moderno e amplo, um transporte público mais rápido e eficaz, uma São Paulo bem planejada e participativa. O alcance dessas metas começou a ser trilhado em janeiro de 2001 e, em quatro anos, avançamos muito. No entanto, os próximos quatro anos serão essenciais para chegarmos ao nosso objetivo.
EDIÇÃO 74, AGO/SET, 2004, PÁGINAS 43, 44