A carta – capítulo 25
– Tá qui.
– Qué isso?
– A ficha do homem!
– Eita! E você conseguiu, foi?
– Deu um trampinho. O cara é mesmo de Sergipe, lá da cidade do velho mesmo. Tá aqui uma pá de tempo; não tem passagem. Tá casado com a mesma dona tem também um tempo e tem filhos. É eletricista autônomo.
– Só isso.
– Péra. Não terminei. A mulher dele é prima de uma outra que teve o marido assassinado lá em Sergipe.
– Ah, é? Como vocês sabem.
– A gente pediu ajuda lá. Quem matou o sujeito foi um policial.
– Quando foi isso?
– Anos 60. Comecinho.
Toninho matuta.
– Quem era o policial.
– Isso não souberam dizer.
– Como não souberam?
– Quando o lance envolve alguém da corporação, é comum nem rolar BO. Naquela época também era assim.
Toninho coça o queixo. O germezinho de uma idéia se insinua em sua cabeça:
– Será possível? – murmura.
– O quê?
– O que o quê?
– O que será possível?
– Falei isso, foi?
– Falou. E vou dizer: pode ser. O velho veio pra Sampa quando?
– Que velho?
– Olha, Toninho, sou investigador tem uma cara. A coisa toda se encaixa: se o velho chegou aqui pelo 64, por exemplo, é bem capaz que ele seja o policial que matou o parente desse aí. O cara pode tá correndo perigo.
– Quem?
– O velho, Toninho! Porra! Pede ajuda e fica aí dando uma de mané; querendo me esconder o jogo!
– Tá certo, tá certo… Pode mesmo ser tudo isso. Mas como é que vamos confirmar?
– Tem dois jeitos: um é prensar o fulano aí. O outro é investigar também o velho.
– Ou investigar o velho, sendo que a prensa é parte da investigação.
– Olha que cê podia ser investigador, hein, cara.
– Toninho sorri. Olha lá fora o movimento. Pela calçada defronte, é um sem parar de gente. Uma mendiga estaciona na porta da oficina. Mexe a boca, como a rezar um terço, mas nenhum som se ouve. O que teria sido quando moça?
– Êta vida filha da puta, Hermano. Muito filha da puta.