O engano musicado apresentado no hino à república, não é a exceção, mas a regra de uma prática presente na formação social brasileira, não raro, tendo por detrás, um intelectual seriíssimo. Quando digo isso, confesso que sou tomado de uma certa sensação de estar dizendo o óbvio, o lugar comum, mas, entrego-me aqui a um provérbio árabe que diz que as palavras foram feitas para serem repetidas, reafirmadas, posto que o homem é um esquecedor, e a uma reflexão, dita em mim: que não devemos desconsiderar os que querem fazer-se de esquecidos.

      Num debate ocorrido nesta semana, por pertinência ao encaminhamento da conversa, eu lembrava que a posição do trabalhador no processo produtivo tem influência na formação da sua consciência, de repente, escutei o teto estralar como se tivesse dito uma enorme heresia e estivesse prestes a ser castigados pelos deuses. Meu detrator, um intelectual seriíssimo, acusava-me de "determinismo marxista".

      Procurando contra-argumentar cuidadosamente (afinal, tratava-se de um seriíssimo), chamei a atenção para um certo "determinismo curioso", observado nas greves da Cobrasma e da Scania (históricas greves sob o regime militar), que tiveram suas bases de organização no setor mais especializado da industria metalúrgica (a Ferramentaria, até então) e, o mesmo ocorrido em quase a totalidade das greves que se seguiram nos anos oitenta. E o mais curioso ainda, foi que desses setores especializados saíram dirigentes de centrais sindicais, deputados, o atual presidente da câmara e presidente da república, isso para ficar no Brasil e não buscar correspondentes na Europa e Estados Unidos ou, não recuar no tempo para observar exemplos como o de Manuel Congo, o escravo ferreiro que liderou a rebelião de vassouras-RJ. Mas, afinal, fiquei só por ai, para não exceder a minha condição de quem não pode ser levado a sério.