Abre os olhos no quarto escuro. Da frincha da porta, vem uma luz mal coada. Procura o interruptor e não acha. Caça a campainha: tateia, tateia, e não encontra. Sente sede. Pensa em se levantar, mas desiste antes mesmo de tentar. Aquieta-se. Apura o ouvido em busca de algum som: só rumores do corredor. Aguça ainda mais a audição: quem sabe alguém respira aí do lado? Mariana? Glória? Algum parente? Chama. Silêncio. Chama de novo. Nada.

      Um temor, súbito, o assalta: E se todos se foram? E se o deixaram só, ali naquele leito de hospital?

      – Enfermeira!

      Nada.

      – ENFERMEIRA!! – grita, pânico.

      A porta se abre. A luz se acende. Enquadrada no batente, como num retrato, Cabo Jorge vê sua imagem – remoçada uns vinte anos.