– Quando é que saio daqui?

      – Daqui uns dias, mãe. Daqui uns dias.

      – Cadê Glória?

      – Cuidando do pai.

      – Por que não é você que faz isso?

      – Não sei. No começo, a gente se revezava. Depois, ela disse que era melhor eu ficar aqui. Fiquei.

      Dona Inácia reflete.

      – Chama sua irmã, Mariana. Quero falar com ela. Vai, e volta com ela.

      – Mas a senhora vai ficar aqui sozinha?

      – É só um instante. Vai lá.

      Passados menos que instantes, as irmãs estão de volta.

      – Oi, mãe. Que foi? – pergunta Glória, serena sob o enfado.

      – Acabe logo com isso, minha filha.

      – Acabar com o quê? – pergunta Mariana, surpresa.

      – O que você quer dizer com "acabe com isso", mãe? – devolve Glória, alerta.

      – Diz tudo pra ele, me tire daqui e vamos embora, cuidar de nossa vida.

      – E deixar ali aqui sozinho?

      – Deixar ninguém. Nunca houve alguém. Só temos nos três agora.

      Mariana se senta, reflexiva. Ouve a mãe. Fixa os olhos num ponto do assoalho e ouve, enquanto Glória se rebela:

      – E ele vai sair assim, ileso, dessa história toda? Estilhaça nossas vidas e é só isso? 

      – Ele não sai. Nunca vai sair. – responde a mãe -. Ele vai estar inútil para o resto da vida. Já nós, não.

      Depois de um lapso de silêncio tenso, Mariana intervém, calma, segura:

      – A mãe tem razão, Glória. Essa vingança não é nossa. E, ainda assim, a gente tá vingada.

      Levanta-se. Vai até a irmã, pousa a mão em seu ombro esquerdo e puxa-a para si. Glória explode em lágrimas.