Tenório, parado à porta, vê pela primeira vez aquele a quem nunca chamara de pai. Não sabe o que sentir, nem tampouco o que fazer. Vinha com tudo armado, pronto para o desfecho de sua vida. Ali, diante daquele trapo de homem de atadura na cabeça, viera-lhe a incerteza de tudo. O coração rebumba na caixa do peito; faz-lhe tremer a armadura de músculos.

      Seu Jorge olha aquele homem, moço, parado no limiar de si: percebe-lhe a vibração. Estranhamente, não sente medo. Raciocina lento, mastigando as idéias. Aos poucos vai compondo um sistema no qual entram Saco das Varas e seu futuro. Seria possível?

      – Como vai Gulóra? – pergunta, sereno.

      Tenório, desperto, avança um passo:

      – Mãe Gulóra, mais minha irmã, Emerenciana, vão bem.

      – Então Gulóra casou, foi?

      Tenório dá mais um passo:

      – Não, casou não. Depois que teve Ciana, foi caçá um pouco de paz em Jabotão. Depois, vendo que a paz não tava em lugar nenhum, voltou pra Saco das Varas.

      – Ciana?

      – Sim, Emerenciana, minha irmã, filha de Gulóra.

      – E você, é filho de quem?

      Tenório posta-se ao lado da cama:

      – Sou Manuel Tenório Régis de Almeida, filho de Mariana da Costa Régis de Almeida.

      O terror se desenhou na cara do velho. Agora via: aquele homem tinha montados em seu cangote os inúmeros fantasmas e toda sua perdição. Quis chamar, mas não pôde. Tudo, de repente, escureceu.