Em meio a uma acirrada disputa eleitoral, o governo Lula entra em uma nova fase caracterizada pela retomada do crescimento econômico. Diferentes prognósticos apontam que o PIB (Produto Interno Bruto) terá um aumento, neste ano, igual ou superior a 4%. Com tal retomada houve uma reversão inicial dos negativos números referentes à oferta de emprego e à renda dos trabalhadores.

O governo ostenta o mérito de ter superado alguns dos aspectos mais negativos da herança maldita de FHC. Em 2003, contornou a iminente insolvência financeira e o descrédito internacional; todavia, o país fechou o ano em recessão. Agora, em 2004 consegue a importante vitória de romper com a estagnação econômica.

Diante dessa conquista, uma corrente política presente dentro e fora do governo julga esses dados positivos como frutos da política macroeconômica monetarista e conservadora herdada da década neoliberal e que os mesmos continuam a ser a diretriz da política econômica. Para essa corrente, o patamar de 4 % é o bastante, uma vez que o principal para ela não é as metas de crescimento, mas os índices da inflação e do superávit fiscal.

Em conseqüência, sob pretexto de manter a estabilidade dos preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) esgrima, desde o reaquecimento da economia, com aumento da taxa básica de juros.

A conseqüência dessa política monetária é nefasta. Funciona como um cartão amarelo contra o crescimento. Tal procedimento é tudo que desejam os banqueiros internacionais e locais, uma vez que proporciona a esse setor absorver grande parte da riqueza nacional por intermédio da usura e da especulação.

Todavia, outra corrente política comprometida com o sucesso do governo Lula, a que valoriza a retomada do algo passageiro e sim um ciclo duradouro de desenvolvimento e valorização do trabalho.
Nesse âmbito, destaca-se a iniciativa da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de empreender negociações entre trabalhadores, empresários e governo, com o objetivo de efetivar um entendimento nacional com base numa plataforma que assegure um crescimento sustentável.

Essa plataforma sugere, entre outras medidas, uma política de recuperação de salários, investimentos em infra-estrutura, aumento da capacidade de produção da indústria, redução das taxas de juros básicos e na ponta do crédito. Advoga, ainda, recompor o Estado enquanto indutor do desenvolvimento e da justiça social.

A proposta foi bem recebida pelo presidente Lula. E obteve eco, também, entre os partidos da base de sustentação do governo. O Partido comunista do Brasil, por exemplo, já em agosto do ano passado lançou um manifesto propondo uma "união nacional pelo desenvolvimento, pelo emprego e valorização do trabalho". Em torno desses propósitos os comunistas apresentaram à sociedade, "dos trabalhadores aos empresários".

Essa proposta de pacto nacional pelo desenvolvimento, apesar de ter sido bem recebida pelo presidente da República e as forças que lutam pela vitória de seu governo, recebeu um bombardeio da pesada artilharia de um conluio chefiado por banqueiros estrangeiros e nacionais por motivos óbvios e já mencionados.

Para vencer esse verdadeiro "sistema" do capital financeiro cravado no dorso da atividade econômica, e mesmo no Estado brasileiro, faz-se necessário uma união nacional – de trabalhadores e empresários, partidos políticos progressistas e movimentos sociais – liderada pelo governo da República. Somente um entendimento, um pacto dessa manitude, tem força para superar e vencer o colossal poderio do conluio capitaneado pelo capital financeiro.

*Comissão Editorial

EDIÇÃO 75, OUT/NOV, 2004, PÁGINAS 3