Na Capital Federal, uma tarde
Jovaldo fumava seu cigarro diante do café como quem se despede da vida. Franziu o cenho na última tragada, segurou-a nos pulmões, soltou a guimba no chão e a esmagou demoradamente enquanto expelia a fumaça com força.
Como se tomasse uma decisão, caminhou no rumo da parada do ônibus. Estacionavam vans cantando destinos em siglas: "W3 Sul até o final! L2 Norte!".
Desistiu da condução. Resolveu-se por andar.
Já consumidas duas superquadras, decidiu penetrar numa e se sentar num dos bancos ao lado do pequeno parque infantil. Acendeu outro cigarro. Pensou na cidade aberta em cruz, como um avião pousado no cerrado, consumindo o erário da nação e apontando a cabeça para o Atlântico lá longe. Considerou a situação geral, evocou Marx e as contradições, lamentou a situação do movimento popular – a que todos agora chamam de terceiro setor ou movimento social -, ponderou sobre o governo distendido entre duas orientações e a força das elites e nada pode concluir: uma chuva pouca, mas persistente, começou a descer sobre a quadra.
Consciente da inutilidade de si, assim só, sentado debaixo d'água num banco desconhecido, a elucubrar sociologias, ergueu-se e saiu, em busca de algum sentido para um amanhã que se teima encoberto.