A guerra contra os EUA pela salvação nacional
Ao longo de sua história o Vietnã resistiu a inúmeras agressões estrangeiras: foram mil anos sob o domínio do Norte, mil anos lutando por sua independência contra invasores de dinastias feudais, incluindo as três ocasiões em que tivemos de lutar contra os Yuan Mongóis, o mais poderoso exército do mundo no século 13; cem anos sob o jugo do velho colonialismo da França. Todas essas foram longas, árduas e violentas provações. Entretanto, os 21 anos de guerra contra os Estados Unidos – de resistência contra o neocolonialismo – provaram ser o maior e mais difícil desafio da nação vietnamita.
O povo vietnamita teve de se confrontar com o mais poderoso, impiedoso, bélico e rico dos imperialismos. A guerra atravessou cinco mandatos presidenciais dos EUA, com o maior desequilíbrio de forças da historia do Vietnã contra agressões estrangeiras, em termos tanto de modos de produção quanto em potenciais econômico e militar.
Os imperialistas americanos mobilizaram na guerra do Vietnã um nível de munição sem precedentes em uma faixa de terra tão estreita, com os recursos das mais avançadas armas, excluindo de seu arsenal apenas bombas atômicas. No auge da guerra, os EUA enviaram mais de meio milhão de soldados juntamente com uma grande esquadra naval e a força aérea, além de mais 75 mil aliados e meio milhão de soldados sul-vietnamitas. Esses números representam um recorde para uma ofensiva neocolonialista.
Washington lançou mão de todas as estratégias, táticas militares, política e diplomacia, bem como do ambiente de destruição com o “agente Laranja”, deixando severas conseqüências para muitas gerações de vietnamitas e mesmo para veteranos de guerra americanos. A Casa Branca e o Pentágono enviaram os seus melhores estrategistas e generais para combater o Vietnã durante a guerra.
O Vietnã tornou-se o foco principal do duro embate entre revolucionários e reacionários no mundo, um lugar onde havia a típica rivalidade entre progresso e reação, entre justiça e injustiça na luta da humanidade pela paz, independência nacional, democracia e progresso social.
Perante tão grandes desafios, diferente dos prematuros dias de resistência contra a França, o Vietnã entrou na guerra contra os EUA em novas condições: o povo e o exército pelo país tinham enfrentado desafios na guerra contra a França e acumularam valiosas experiências. Liberto, o Vietnã do Norte, possuindo elo com fraternos países socialistas, estava mais consolidado até para poder agir como a grande barreira no front no Vietnã do Sul. O exército vietnamita gradualmente se transformou em uma força moderna e regular, treinando as unidades do exército que haviam sido reagrupadas no norte para que pudessem um dia retornar, eventualmente se incorporarem a divisões fortes e assim reforçarem o sul.
O presidente Ho Chi Minh percebeu a perversa conspiração dos EUA muito cedo. Em 1950 ele já apontara o envolvimento e a interferência norte-americanos na Guerra Indochinesa. Com o intuito de garantir a paz, em onze ocasiões ele enviou cartas ao presidente Truman. Na Batalha de Dien Bien Phu, com as armas ainda empunhadas, oficiais e homens do exército vietnamita receberam uma carta de recomendação do presidente Ho Chi Minh. Nela, ele sublinhou: “A vitória foi grandiosa, ainda que seja apenas o começo”. Quando eu retornei de Dien Bien Phu para a base de Viet Bac, liguei para o presidente. Ele disse: “Bem-vindo de volta com a vitória! Mas nós teremos de lutar contra os EUA!”
Durante a 6ª Plenária do Comitê Central do Partido (julho de 1954), que priorizou a assinatura da Convenção de Genebra, foi deliberado: “Os imperialistas dos EUA são os maiores inimigos dos povos pacíficos no mundo, tornando-se o principal inimigo do povo Indochinês”.
O presidente Ho e o Partido estavam certos em definir uma linha revolucionária nesse estágio. Ao lançar simultaneamente duas estratégias revolucionárias nas duas partes do país em prol de uma meta comum (a luta contra os EUA pela salvação nacional): a libertação do Vietnã do Sul, e a proteção do Norte de uma eventual reunificação, eles apontaram para o elo estratégico entre as duas partes do país. Construir o socialismo no Norte assegura mais força para a libertação do Sul. Desse modo, aumentar a luta revolucionária no Sul é para libertá-lo e proteger o Norte. O Norte jogaria o papel mais decisivo; o Sul surtiria efeito direto na conclusão da revolução democrática por todo o país. Isto também representaria um estreito laço entre a retaguarda e o grande front, mobilizando toda a população para a luta contra os impiedosos inimigos. Também mostraria a gana da nação vietnamita. “O Vietnã é um, a nação vietnamita é uma. Rios podem secar e montanhas virem abaixo, mas esta verdade jamais mudará”.
O Partido corretamente combinou deveres nacionalistas com obrigações internacionalistas: o fortalecimento da combativa aliança dos três povos Indochineses, a promoção da solidariedade entre a revolução do Vietnã a correntes revolucionárias no mundo, relacionando-se estreitamente com União Soviética, China e outros fraternos países socialistas, desenvolvendo uma ampla frente de povos amantes da paz e da justiça no mundo, inclusive norte-americanos que se opunham à agressão imperialista dos EUA. O presidente Ho e o Partido tiveram êxito na edificação do espírito de “determinação para derrotar os agressores EUA” no seio do povo e do exército. O destemor, a lealdade e a determinação para ganhar de todos os inimigos agressores são antigas tradições da nação.
Durante a Revolução de Agosto de 1945 esse espírito se refletiu em palavras de ordem como “Mobilizar as forças internas para nos libertar”, “Uma oportunidade favorável surgiu, mesmo que tenhamos de queimar toda a Cordilheira de Truong Son, nós o faremos pela independência nacional”. Durante a guerra de resistência contra os franceses, o espírito era “Nós preferimos sacrificar a todos a perder o país. Jamais seremos escravizados”. Já na guerra contra os EUA, o presidente Ho Chi Minh convocou uma Conferência Política, demonstrando a determinação de toda a população em lutar contra os imperialistas americanos.
Quando os EUA enviaram um número massivo de soldados para o Sul e utilizaram forças navais e aéreas para destruir o Norte, Ho Chi Minh afirmou: “A guerra pode durar 5, 10, 20 anos ou mais. Hanoi, Haiphong e algumas cidades e empreendimentos podem ser destruídos, mas o povo vietnamita não se intimidará! Nada é mais precioso que a independência e a liberdade!” Ou “Enquanto houver quaisquer agressores estrangeiros no país, nós continuaremos a luta para varrê-los para longe”.
Isso foi considerado o “apelo sagrado para a luta” contra os EUA pela salvação da nação, representando a determinação para a luta de toda a população e do exército.
Naturalmente, apenas determinação não foi suficiente para derrotar os norte-americanos, mas em primeiro lugar a coragem de lutar contra os EUA ajudou a encontrar um caminho para vencê-los.
A determinação para a luta e o conhecimento de como lutar, juntamente com força de vontade e inteligência, heroísmo revolucionário e criatividade, combinados são o espírito e a mente que ajudaram o Vietnã a agüentar todas as mudanças.
Aprender a lutar foi resultado de um processo de criatividade das lideranças e do povo – baseado na compreensão da lei revolucionária, da estratégia de guerra, dos pontos de vistas realistas, na avaliação correta da força do inimigo, bem como de suas fraquezas – culminando numa mudança decisiva nos aspectos da guerra, avançando passo a passo em direção à vitória final.
O levante foi uma grande iniciativa. No espírito do “Programa Revolucionário para o Vietnã do Sul”, escrito pelo secretário-geral do Partido, Le Duan, em especial a 15ª Resolução do Comitê Central do Partido, os sulistas se levantaram de um obscuro período para romper com o regime testa-de-ferro de Saigon, para libertar grandes áreas rurais e se engendrar em operações de áreas urbanas. O “exército de cabelos compridos” foi um símbolo brilhante do heroísmo revolucionário e do pensamento das mulheres Sul-vietnamitas. Com o Levante, a revolução no Sul assumiu uma posição ofensiva. A Frente de Libertação Nacional e o Exército de Libertação do Sul do Vietnã se estabeleceram, criando poderosas mudanças em termos da força e da posição da revolução. Como o governo do neocolonialismo, através do regime testa-de-ferro ditatorial, provou não ser duradouro, Washington, como último recurso, apelou para a tática de “Guerra especial” em sua estrutura de “reação flexível”, para se opor às tendências revolucionárias, como havia usado no início da Segunda Guerra Mundial.
Isso exigiu uma nova forma de resistência às táticas da “Guerra especial” no sul do Vietnã, transformando um levante parcial numa guerra revolucionária. Compreendendo as dificuldades de uma acirrada guerra revolucionária, o povo sul-vietnamita promoveu a luta popular. Esmagando as operações dos inimigos e desintegrando sua rede de aldeias estratégicas, consideradas pela administração testa-de-ferro como impulsionadoras das forças políticas em áreas urbanas e rurais. As forças armadas se construíram gradualmente. A vitória de Ap Bac sinalizou a possibilidade de resistência às novas táticas dos EUA. Foram relatadas sucessivas vitórias em Binh Gia, Ba Gia e em Dong Xoai, a varredura dos batalhões de Saigon provocaram o colapso da estratégia de “Guerra especial” dos EUA e alertaram para a mudança desta em uma “Guerra Local”.
Os EUA consideravam o Vietnã um foco do movimento de libertação que precisava ser detido a fim de impedir outras insurreições nacionais no mundo e a disseminação do comunismo pelo Sudeste da Ásia. Os EUA lançaram a “Guerra local” enviando tropas expedicionárias americanas para lutarem diretamente na frente de batalha do sul, conduzindo sua guerra à destruição do norte numa tentativa de “estrangular” a revolução no sul, e “lançar os norte-vietnamitas de volta à idade da pedra”, colocando desse modo um desafio sem precedentes ao povo vietnamita de ambas as partes do país.
O presidente Ho Chi Minh e o Partido avaliaram a nova situação estratégica de maneira calma e clara. Criou-se uma grande unanimidade entre o Partido, o exército e o povo, que estavam determinados a se defenderem da ofensiva norte-americana.
Sob a égide dessa difícil e grave situação a vontade e a determinação do Vietnã em lutar tiveram bom resultado. Nunca houve um espírito anti-EUA tão grande como nessa época. O país inteiro ferveu com a luta contra os EUA e todo o povo se dirigiu ao campo de batalha. No Sul, movimentos semelhantes aos “Valentes soldados para varrerem as forças armadas dos EUA”, “Vamos procurar por soldados dos EUA para lutar, vamos procurar soldados fantoches para matar”, “Vamos perseguir o inimigo para lutar”, dentre outros. No Norte, “Cada um trabalhando por dois”, “Três prontidões”, “Três responsabilidades”, “Vamos apontar direto para o inimigo e atirar”, “Vamos atravessar a Cordilheira Truong Son para salvarmos o país”. A Estrada Truong Son, a Trilha Ho Chi Minh na terra e no mar como linhas de transporte estratégicas tornaram-se “caminhos lendários” que propiciaram à retaguarda deslocar para ajudar no grande front.
As batalhas de Nui Thanh, Van Tuong, Ya Drang, Playme, Dat Cuoc e Dau Bang foram as primeiras batalhas de significado importante, pois expuseram a fraqueza das tropas dos EUA. O Vietnã do Norte abateu sofisticados aviões norte-americanos e capturou seus pilotos. As vitórias iniciais em ambas as partes do país não foram apenas corajosas, mas também provaram que o exército e o povo vietnamita poderiam derrotar a infantaria e a força aérea dos EUA. Os esforços das mulheres de Cu Chi e Trang Bang em impedir que os tanques de guerra dos EUA destruíssem os campos de arroz e que os soldados queimassem as casas demonstraram a destreza da política, aliada à gana do povo vietnamita frente às tropas norte-americanas.
Os EUA calcularam que eles precisariam de várias centenas de milhares de soldados e lançaram ofensivas estratégicas durante três estações secas, numa tentativa de derrotar o Vietnã antes de retornarem ao país e imporem o neocolonialismo ao Vietnã do Sul. Com isso em mente, deflagraram operações de “procure e destrua” na esperança de quebrar a espinha dorsal do autêntico exército Viet Cong, capturando ou aniquilando o Comando Central ou o Comando do Exército de Libertação do Vietnã do Sul, promovendo alguns bombardeios em larga escala contra o Vietnã do Norte e obstruindo a Trilha Ho Chi Minh – e então o Vietnã estaria completamente derrotado.
Mas depois das duas contra-ofensivas nas estações secas de 1965-1966 e 1966-1967 com operações de vulto como Cedar Falls, Attleboro, e Junction City, os EUA não estavam aptos a destruir as forças do Exército de Libertação ou capturar o “cérebro” da guerra de resistência no Sul. Ao contrário, os EUA sofreram derrotas sem precedentes. Próximo à terceira estação seca, dificilmente os EUA começariam a fazer qualquer coisa além da batalha de Khe Sanh. E o levante de Tet de 1968 foi como um raio caindo sobre eles, estremecendo sua ofensiva. O general Westmoreland foi afastado, o secretário da Defesa McNamara demitiu-se, o presidente Johnson teve de declarar um cessar unilateral dos bombardeios acima dos 20º de latitude no Vietnã do Norte, e teve de aceitar sentar à mesa de negociação com o Vietnã na Conferência de Paris, sob o risco de não concorrer a um segundo mandato presidencial.
O surpreendente, simultâneo, poderoso e eficaz golpe da ofensiva de Tet em 1968 foi uma iniciativa única, jamais vista antes, marcando um ponto de virada básico que mudou o aspecto da guerra e abriu o processo de arrefecimento da guerra por parte dos EUA. Nós tínhamos tanta determinação quanto conhecimento para lutar e vencer as tropas norte-americanas quando elas eram esmagadoras em número – uma potência com seus maiores esforços guerreiros. A estratégia de “guerra local” foi à pique e os EUA tiveram de mudar de posição para a “desamericanização”, em detrimento da “vietnamização” da guerra.
O processo de arrefecimento dos EUA foi uma prolongada e violenta medição de força. Eles arrefeceram a guerra, mas permaneceram obstinados em prolongá-la e alastrá-la por toda a Indochina. Nosso povo permaneceu lado a lado aos povos do Laos e Camboja para frustrar os planos e ardis dos EUA.
Em 1º de Janeiro de 1969, em seu poema de Saudação do Ano Novo, Tio Ho escreveu: “Lutar até que os EUA vão embora e o regime testa-de-ferro seja derrubado.” Ninguém imaginaria que seriam seus últimos cumprimentos de Ano Novo. O talentoso estrategista, o professor da revolução vietnamita delineou estes dois passos para a vitória final: “Norte e Sul reunidos, pode ser um feliz salto”. Nossos povo e exército cumpriram totalmente as instruções de Tio Ho. Junto com o povo e o exército do Laos nós derrotamos a operação Lam Son 719 na Estrada nº 9 – batalha ao sul de Laos em terra. Então a ofensiva estratégica foi lançada em 1972 por todo o Sul, e a batalha aérea de Dien Bien Phu no Norte.
Nós alcançamos vitórias de significado decisivo. Os EUA tiveram de assinar o Acordo de Paz de Paris, assumindo o compromisso de respeitar a independência, soberania e integridade territorial do Vietnã, retirar todas as suas tropas, alterando a correlação de forças – favorável a nós pela primeira vez em 18 anos de resistência contra os EUA. Diante dessa situação, em julho de 1971 o Comitê Central do Partido convocou a 21ª Conferência e emitiu a Resolução sobre a grande vitória da resistência contra os EUA pela salvação nacional e a tarefa da revolução do Sul na sua nova fase.
A estratégica batalha no começo de 1975 marcou o novo brilhante desenvolvimento da arte da Guerra popular no tempo moderno, especialmente a arte de gerenciar a Guerra no estágio final, a arte de organizar e dirigir a implementação de batalhas-chave e conduzir a resistência à vitória total.
As batalhas de Thuong Duc e Phuoc Long serviram como estratégicas batalhas-termômetro que revelaram a fraqueza do exército fantoche e a limitação da habilidade dos EUA para se reorganizarem.
Tendo preparado a estratégia no Norte e no Sul, a ofensiva geral e a insurreição, no início de 1975, foram marcadas por um estratégico golpe mortal em Buon Ma Thuot e a libertação dos planaltos centrais foi uma excelente escolha tática, criando diversidade, enganando e desorganizando o inimigo através de esquemas, lutando bem, alcançando grandes vitórias e rapidamente mudando o aspecto da guerra.
Em 14 de abril de 1975, a Executiva Nacional do Partido decidiu chamar a libertação do Sul de “Campanha Ho Chi Minh”.
Atentas em aproveitar tal oportunidade, a Executiva Nacional e a Comissão Militar do Comitê Central do Partido tomaram a iniciativa de criar o fator surpresa e alterar o plano de libertação do Sul – cujo prazo era de três anos –, diminuindo para um ano apenas.
A campanha para libertar Hue e Danang foi uma ofensiva a mais e promoveu a insurreição de uma maneira oportuna, ousada, criativa e eficaz, destruindo e desintegrando totalmente o exército fantoche nas províncias costeiras sem deixá-los concentrados em Saigon, libertando o Vietnã central e as Ilhas Spratley. Desse modo criaram novas posição e força. O Comando Supremo se agarrou à nova oportunidade, decidindo pela libertação do Sul antes da estação chuvosa em 1975.
No espírito de “Rápido e mais rápido. Ousado e mais ousado. Fazendo uso de cada hora, cada minuto para alavancar a frente pela libertação do Sul. Determinado a lutar e alcançar a vitória total”, a histórica Campanha Ho Chi Minh foi feita com a determinação de lutar e alcançar a vitória total, mantendo a Cidade de Saigon quase intacta em sua libertação.
Com 55 dias (uma estranha coincidência comparada com os 55 dias da batalha de Dien Bien Phu) com esmagador poder tanto militar quanto político – e com três golpes estratégicos junto com a ofensiva e o levante no Delta do Rio Mekong –, mais de um milhão de tropas pró-EUA foram destruídas e dispersas, o governo fantoche foi derrubado, o regime neocolonialista – construído pelos EUA com grande dor através de cinco presidências – foi esmagado.
A vitória da resistência anti-EUA foi esperada com grandes sacrifícios e esforços da nação inteira em uma feroz e longa disputa de inteligência e força com o inimigo, especialmente pelos compatriotas do Sul. A defesa invencível da terra natal; a vitória da liderança, direção, gerenciamento e comando no nível macro em combinação com específica ação de combate e esforço de cada oficial e homem em todos os campos de batalha, em cada unidade – não de um único campo de batalha ou unidade –; a Executiva Nacional, a Comissão Militar do Comitê Central do Partido, o Quartel General e seus representantes no front, o Comitê Central para o Vietnã do Sul e os Altos Comandos de campos de batalha, os Altos Comandos das campanhas e o Alto Comando da Trilha Ho Chi Minh jogaram um papel especialmente importante. No início de 1975, o Alto Comando Supremo mostrou claramente seu talento para planejar a estratégia, bom conhecimento do inimigo e de si mesmo na direção da guerra em escala nacional em uma ágil e valente maneira para alcançar a vitória total em uma situação mundial extremamente complicada durante os meados dos anos 70.
O dia da vitória total em 30 de abril de 1975 entrou para a história como o fim de uma estratégia sem competição. Durante a longa marcha de 30 anos com três marcos da vitória da Insurreição Geral de agosto de 1945, a vitória da batalha de Dien Bien Phu e a vitória total no início de 1975, nossa nação completou gloriosamente a causa da salvação nacional. O jugo do colonialismo, velho e novo, que tinha durado por mais de cem anos em nosso país fora abolido para sempre. Nossa terra natal estava totalmente independente e unificada. O país inteiro embarcou pelo caminho do socialismo.
Em escala mundial – pela primeira vez na história houve esse esforço de países pequenos –, uma nação que costumava ser uma colônia semifeudal, subdesenvolvida economicamente, levantou-se para se libertar e derrotou o maior poder imperialista com sua própria força, dando um heróico, destemido, sábio e talentoso exemplo para o movimento de emancipação nacional no mundo. A expressão “Vietnã – Ho Chi Minh” entrou para as línguas das nações como um sinônimo de consciência humana e dignidade com a verdade “nada é mais precioso que independência e liberdade”.
A vitória do povo vietnamita foi de enorme magnitude internacional, também da humanidade amante da paz e justiça pelo resto do mundo.
A vitória do povo vietnamita foi ainda de um profundo caráter de época. Ela confirmou a verdade que “um Estado, não importa o quão forte seja, que usa a força para impor sua vontade a outros, será, por fim, derrotado”. A vitória de Dien Bien Phu e a vitória no começo de 1975 foram o destino que a história havia reservado para as guerras de agressão no período moderno.
Libertação nacional
Os EUA e outras forças incrementaram e desenvolveram modernas armas militares e equipamentos nos últimos anos. A corrida armamentista continuou indo adiante. Paralelamente com a nova estratégia, os “direitos humanos” foram colocados acima da soberania – algumas rodas militares haviam concedido a si mesmas o direito de invadir Estados independentes e soberanos a despeito das leis internacionais. A guerra do Golfo ocorreu após a da ofensiva contra Kosovo e a Guerra do Iraque, e ainda existem tratos para novas guerras de ofensiva. Uma nova questão se levanta: na condição de agressores com armas de alta tecnologia, a teoria militar vietnamita ainda tem algum valor?
Nós nunca subestimamos o inimigo e sempre demos importância em nos apressar nas pesquisas das ciências e técnicas militares, desenvolvendo as teorias militares vietnamitas em altos níveis, especialmente quando as forças empreendiam uma “revolução no campo militar”. Nós podemos confirmar que a teoria militar vietnamita da era de Ho Chi Minh nos ajudou a manter a independência, a soberania, a integridade territorial no nosso país, vencendo em todas as guerras a despeito de toda modernidade que possuíssem os agressores ou de onde viessem.
A cultura vietnamita, a linha Revolucionária correta do Partido e o desenvolvimento criativo e constante das teorias militares serviram de lastro e força para o Vietnã na era Ho Chi Minh.
Depois de conseguir total independência e reunificação nosso país embarcou na trilha do socialismo e toda a população no norte e no sul passou pelo aperto de duas tarefas estratégicas: construção nacional e defesa de sua terra natal.
Na causa do desenvolvimento econômico, que se tornou a tarefa central, após um período de falhas e erros subjetivos, imitações e voluntarismo, nosso Partido logo voltou ao pensamento de Ho Chi Minh, provido de senso de realidade, e redescobriu a lei, trabalhando a linha correta e criativa de renovação.
Essa linha inspirou fortemente nosso povo a conseguir grandes vitórias na economia, cultura e em frentes externas. Nosso Partido chegou a uma conclusão histórica: o marxismo-leninismo e o pensamento de Ho Chi Minh constituem fundamento ideológico e compasso para a ação. Nosso país emergiu da crise e está trilhando um caminho para a industrialização e a modernização com uma economia multi-setorizada e mecanismos de mercado sob o gerenciamento do Estado juntamente com a orientação socialista.
Entretanto, mesmo com tão grande vitória da linha de renovação nós temos de ter coragem de superar “as idéias preconcebidas” para olharmos direto para a verdade.
Devemos dizer que até hoje nosso país permanece no rol das nações pobres do mundo: a estrutura econômica principalmente agrícola, a produtividade ainda muito baixa e o nível de tecnologia atrasado em comparação com países desenvolvidos. Entretanto, cumprindo a meta de construir o socialismo, a maior contradição na nossa sociedade entre a alta demanda para as forças de desenvolvimento produtivo, bem como a constante melhoria da vida material e cultural do povo, com a pobreza e condições desfavoráveis existentes vai sendo superada passo a passo. Sem mencionar que a corrupção, o declínio da moralidade e as aparências das mazelas sociais trouxeram à tona o outro lado do mecanismo de mercado.
Nesse ínterim, a face do mundo mudou rapidamente. Um grande número de países desenvolvidos estava agora entrando numa nova era socioeconômica: a era da economia baseada no conhecimento da civilização intelectual. Com isso o serviço e o intelecto se tornaram líderes das forças produtivas. Nessas bases, uma nova ordem mundial com tendência à globalização foi tomando forma, desenhando todo o planeta dentro de um grande turbilhão governado por um pequeno número de forças e grupos supranacionais.
Contrariando o desejo de paz e progresso da humanidade a Guerra de círculos hegemônicos e seus serviços de inteligência vão deflagrando guerras locais, terror, conflitos étnicos e religiosos, “evolução pacifica”, revolta, subversão, separação e a corrida armamentista de armas de alta tecnologia nunca vistas antes. O ambiente de segurança do mundo está passando por mudanças sem precedentes.
Aparentemente, na entrada do século 21 e do terceiro milênio, nosso Partido se depara com novas oportunidades e também com desafios sem precedentes. Como no passado, nos grandes divisores de águas pela luta pela libertação nacional nosso Partido, provido de senso de realidade, trabalhou uma política de acordo com a lei de desenvolvimento da Guerra revolucionária – que hoje em dia delineia novas políticas como impulsos para o crescimento do país.
Tais políticas vêem a construção econômica como a tarefa central dando prioridade às forças de desenvolvimento produtivo, como atestam Marx e Engels: o desenvolvimento universal das forças produtivas modernas serve como premissa de todas as premissas para o socialismo e o comunismo – relações de produção devem estar de acordo com o caráter desenvolvimentista e no nível das forças produtivas.
Tais políticas vêem educação e treinamento e ciência e tecnologia como a maior prioridade porque a
ciência e o intelecto se tornaram líderes das forças produtivas com a tecnologia avançada servindo como parâmetro e direcionando a causa da modernização.
Tais políticas também trazem à tona a força interna do país, principalmente do povo e da cultura vietnamitas que servem de base para a integração regional e do mundo, fazendo uso de fontes de capital estrangeiro, tecnologia e conhecimentos de gerenciamento para a causa do desenvolvimento nacional.
Tais políticas dão voz à constante construção e reconstrução do Partido, vendo isso como uma tarefa primordial para fazer nosso Partido puro, forte, democrático, disciplinado e unido, realçando a moralidade revolucionária, combatendo o individualismo, factualismo, eliminando a corrupção e as mazelas sociais; recapitulando as realidades e desenvolvendo avançadas teorias como ter uma consciência digna, ter a honra e o intelecto da classe trabalhadora e da nação em bases sobre as quais se reformará o estado do povo, para o povo e pelo povo, fortalecendo e expandindo a Frente Unida Nacional.
Para aumentar incessantemente nossa vigilância, salvaguardar nossa independência, nossa soberania e nossa integridade territorial, águas e ambiente ecológico, adicione importância à construção da força de defesa de todo o povo e à segurança do povo, tomando iniciativa na integração econômica global. Assim, se ganha o máximo de simpatia e apoio dos movimentos pacifistas, de independência nacional, democracia e progresso do mundo.
Todo o nosso povo unido como um só para superar o conservadorismo e o dogmatismo e perceber sob todos os esforços a linha trabalhada pelo partido – levando adiante o 10º Congresso com novos progressos e vitória.
No trigésimo aniversário da vitória de 30 de abril, nós ainda lembramos nosso estimado Tio Ho, o talentoso e amado líder do Partido e da nossa nação e as forças armadas populares do Vietnã; os secretários-gerais Truong Chinh e Le Duan, outros líderes do Partido e do Estado, generais, líderes e comandantes das frentes dos campos de batalha que tiveram grande contribuição para a grande vitória da nação, mas já não estão entre nós.
Profundamente tocados lembramos muitos quadros, combatentes e companheiros que bravamente tombaram pela gloriosa causa revolucionária que nossa terra natal e nosso povo têm hoje.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para dar meus sinceros elogios e profunda gratidão às mães dos heróis vietnamitas, às famílias dos mártires revolucionários e às famílias que foram de grande ajuda bem como aos compatriotas por todo o país.
Estendo meus sinceros elogios e meus profundos sentimentos a todos os quadros e combatentes das forças armadas, aos inválidos de Guerra, vítimas do agente laranja, veteranos de Guerra, antigos voluntários da juventude, trabalhadores, homens e mulheres engajados.
Expresso meus sinceros agradecimentos às nações vizinhas bem como a todos nossos amigos internacionais pela sua grande colaboração e gentil assistência à nossa nação na guerra e no processo de reconstrução da nação.
Acredito piamente que sob a invencível bandeira do Partido e de Ho Chi Minh, com grande ambição, sendo firmes sob todas as circunstâncias e trazendo toda a capacidade e pensamento na nova era, nosso povo, cada vez mais unido, permanecerá fiel aos nossos sonhos: avançar na renovação, industrialização e modernização; conquistar novas vitórias; alcançar desenvolvimentos rápidos e constantes; tomar nosso país, um país heróico, mas ainda pobre e cheio de revezes, saindo da atual posição de atraso para em breve tornar-se um país heróico, rico, forte e civilizado, mantendo o ritmo e caminhando lado a lado com a média. E então países avançados do mundo, como nós, colônias no passado, tornar-se-ão a vanguarda dos movimentos de libertação nacional.
General Vo Nguyen Giap foi comandante de operações terrestres do Exército de Libertação do Vietnã. Discurso proferido no seminário científico “Vitória na primavera de 1975 – a grande habilidade e inteligência do Vietnã” no Thong Nhat Palace em Ho Chi Minh City em Abril de 2005. Traduzido por Mariana Venturini.
EDIÇÃO 79, JUN/JUL, 2005, PÁGINAS 44, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51