Alta do petróleo e guerra imperialista
Em fevereiro de 2003, Ari Fleisher, então secretário de imprensa de George Bush, deixou atônitos milhões de manifestantes – que, ao redor do mundo gritavam contra a guerra por petróleo – ao dizer que “se essa guerra fosse para baratear o petróleo, os Estados Unidos poderiam simplesmente levantar as sanções para que o petróleo pudesse fluir”. Fleischer deixa claro que essa é uma guerra pela alta do petróleo. O petróleo subiu de US$ 20 para mais de US$ 50 o barril. Wall Street tem um profundo interesse em controlar os estoques de petróleo e manter os preços altos; Washington tem prestado bom serviço a eles com as sanções assassinas e as guerras.
A produção de petróleo do Iraque declinou desde a invasão dos Estados Unidos; não há um esforço sério para desenvolver o Iraque e suas vastas reservas, onde o petróleo pode ser produzido por menos de US$1 o barril.
Os bancos de Wall Street e os monopólios de petróleo são dominados por um número pequeno de famílias. Eles compartilham interesse na alta do petróleo. Como? Uma pista pode ser achada no Wall Street Journal de 29 de junho de 1990, quando os preços do petróleo estavam no prumo. “Os baixos preços do petróleo”, dizia o Journal, “sacudiram a indústria do petróleo e jogaram na destruição os bancos que subscreveram bilhões de dólares de débito garantido do fóssil”.
A primeira Guerra do Golfo seguiu e os preços do petróleo se elevaram. Considerando que:
– Preços altos de petróleo ajudam a repagar débitos pertencentes aos bancos de Wall Street, como o Journal subentendeu. O relatório de 1998 da Global Witness (Testemunha Global), conta em detalhes como os bancos imperialistas aproveitam a renda das vendas de petróleo de Angola para repagar empréstimos de guerra. Os altos preços do petróleo apressam a coleção de Wall Street de débitos de produtores de petróleo ao redor do mundo, incluindo os Estados exportadores de petróleo Texas, Louisiana e Oklahoma. Graças aos altos preços do petróleo, a Business Week diz em reportagem recente que “É bem capaz que a Rússia possa recuperar sua grade de investimento de crédito”.
– Os preços altos do petróleo ajudam Wall Street a pilhar os capitalistas mais fracos ao redor do mundo, através do mecanismo de troca desigual. Para justificar seu logro, os monopólios há muito tempo dizem que a produção de petróleo logo cairá. Mas não há absolutamente falta de petróleo (embora é esbanjadoramente destrutivo queimá-lo); e o custo de encontrar e produzir petróleo declinou significativamente nas duas décadas passadas. Em 2003, o custo médio para se produzir um barril de petróleo (42 galões) estava ao redor de U$ 2,20, incluindo a produção de grande valor dos campos do Alaska e o petróleo barato do Golfo. Coincidentemente, o custo médio para se produzir café também está ao redor de $2,20 o quilograma. Mas Wall Street vende monopolizadamente petróleo por $50 o barril, enquanto o quilo de café, cultivado por milhares de pequenos e médios produtores, é vendido por volta de US$1,45. Produtores de café precisam de petróleo como combustível ou para fazer fertilizante. Mas o “inverso” é devastador. Não monopolizados produtores de mercadorias manufaturadas e agrícolas também encaram uma troca desigual com os monopólios e a força armada é ultimamente usada para reforçar isso.
– Preços altos de petróleo ajudam a boa posição da “superprodução” capitalista. Wall Street justifica as preocupações sobre futuros lucros e repagamento de débitos como uma praga de seu sistema podre. “Preços mais altos de energia podem limitar potencialmente produtos não lucrativos”, reporta o Wall Street Journal. Recentes quedas na produção industrial da Alemanha e da Itália estão ligadas aos preços do petróleo.
– Acima de tudo, preços altos de petróleo facilitam a direção de Wall Street para baratear e enfraquecer o trabalho. Como o capital é redirecionado para pagar por energia mais custosa, o nível do desemprego cresce entre os trabalhadores.
– A China é o principal – não-declarado – alvo da guerra dos Estados Unidos. “A guerra liderada pelos Estados Unidos com o Iraque poderia fazer a China altamente vulnerável a um rompimento no suprimento de petróleo cru e nos preços mais altos”, apontou a CNN em setembro de 2002. “Para conter a China”, o Singapore Straits Times comentou em fevereiro de 2003, “os Estados Unidos precisam sozinhos tomar o controle da estratégica área do Golfo”. Os elevados preços do petróleo roubam a China e jogam destruição com seus planos econômicos. A guerra reflete os antagonismos de classe de Wall Street com o Estado chinês – que é um produto de uma revolução socialista.
Ari Fleisher em algum ponto nega que esta é uma guerra por petróleo barato. A guerra por petróleo barato é impelida por uma crise que se aprofunda do sistema social a favor do qual ele fala.
Wadi’h Halabi é economista e membro da Comissão Econômica do Comitê Central do Partido Comunista dos Estados Unidos. Traduzido por Luciana Cristina Ruy.