Violeta à janela
Conjuradas todas as agonias, sobrou-lhe aquele estado de insuficência, falto de qualquer ânimo que a fizesse vestir-se e encarar a balada. Nena propôs ao telefone a boate de sempre, com os "gatos" de sempre e as certezas protocolares. Farta disso tudo e daquele mais um pouco, voltou-se para a paisagem deste sexto andar e acendeu um cigarro. Após o primeiro trago, olhou a ponta acesa, soltou um grunhido de mofa e, com um piparote, atirou o bastão longe.
Corpo esguio em camisola de cetim vinho; pele quase tão alva quanto aquela lua que vinha ali; cabelos curtos, de cachos largos e definidos; olhos grandes, violetas – ponderava. Não se prendia a nada em particular. Pesava a própria vida sem frases ou signos: imagens; somente imagens – e uma sensação difusa, inapreensível.
Quando a flor de si depositou-se funda na garganta e no útero, rejeitou o salto e redesenhou toda a trajetória: dali a dois meses, mandaria cartões de algum ponto da América Latina, ou da África, desejando aos amigos a velha e cômoda felicidade.