Singularidades
Ela vem com seus cabelos dourados, não, ruivos, ou melhor, castanhos e sua pele rósea ── ou, pele de ébano que fica bem com seus olhos azuis que às vezes parecem verdes, na verdade, acho que são negros.
Ela chega por entre a bruma de uma floresta escura, não, não, isso é exageradamente romântico e nem tem cara de Brasil. Ela aparece pelo corredor caminhando com seu jeito meio desleixado, com o tênis desamarrado, mas, neste dia não, parece-me que estava de salto, ou, caminhava descalça como uma ninfa, não, ninfa não. Mas, estava coberta com um véu! Estava?
Agora está na praça fazendo um discurso contra as injustiças sociais, sim, ela é uma atriz representando uma farsa, ou é bancária, não, acho que não, é psicóloga, professora, ou apenas estudante. No momento seguinte ela está deitada na rede atirando cascas de laranja e rindo muito, aliás, não está rindo, não está achando graça nenhuma, ou melhor, está sim, ela vê graça em tudo, está embriagada recitando o Lorca!
O que ela mais gosta é viajar, gritar debaixo da cachoeira e representar o papel da mulher que ama. Gosta de ficar até tarde na cama e depois não fazer nada. Tudo nela é simplicidade, ela é assim, desencanada mas, de vez em quando, toma alguns anti-depressivos, ou não, não toma nada, ou melhor, toma sim, toma tequila no gargalo, cerveja, toma vinho e quando perde o caminho, acaba lá em casa ── então, êita! lá em casa.