Balada de um soldado
É hora de voltar pra casa. Atravessei os currais, banhei-me no rio Volga. Duas horas depois duas braçadas no Araguaia. Caminhei pelo Alentejo e parei pra comer sardinha no meio da seara. Sentei-me frente a um palácio e tomei chichia com os Mapuches. Peguei um táxi em Montgomery e o motorista cantava um blues com as histórias da avenida Dexter. Daqui a pouco estaremos na Argélia. Quero subir nos telhados e olhar as vielas. No bolso da mochila tem um cantil de titânio com tequila pra beber lá nos paredões. Banana, bananeira, aqui é o Vale do Ribeira? Está de brincadeira? Isso aqui é um mundo inteiro. Levante a cabeça, ali é a Serra da Barriga. Não diga? Digo, Vietnã é do outro lado da cidade. Continue caminhando e não olhe pra trás. É hora do almoço rapaz, mas só temos pão com berinjela. Daqui do alto dá pra ver as duas linhas da favela. Preste atenção, a certa altura o trem pára, adiante os Pirineus, Bálcãs, Zeus, teu bisavô. Estava no poema da praça de touros, o amor da donzela Natércia. Isso aqui era a Pérsia, agora é o Irã, joguem as armas por cima das muradas! A distância faz esquecer alguns lugares, mas onde quer que estiveres ou estares, estarei contigo, não sou seu amigo, eu sou você, Agora repita, os vales de vinha são verdes. Camarada é quem caminha parelho, parelho é do lado. O céu estrelado que brilha na noite escura do conhecimento já não ilumina o caminho dos caminhantes solitários, é hora de voltar pra casa.