Enquete realizada em 2005, via internet, pela BBC de Londres conferiu a Karl Marx o título de “o maior filósofo de nosso tempo”. Marx “concorreu” com grandes nomes conhecidos do público e ficou em primeiro lugar com 27,93 % (Hume ficou em segundo e Wittgenstein em terceiro).

Este é apenas um singelo grão na montanha de evidências do que disse Frederich Engels em 17 de março de 1883 ao pé do túmulo de Marx: “Seu nome viverá através dos séculos, e com ele a sua obra!”.
Nessa mesma homenagem, Engels assinala que não houve um campo sequer do conhecimento em que Marx não tenha realizado pesquisas, e por onde seu cérebro passou deixou contribuições originais.
Todavia Engels destaca haver entre a numerosa vastidão de descobertas e aportes teóricos que alçaram o nome de Marx ao topo da história da ciência duas que por si só bastam para simbolizar o legado marxiano.

A primeira, diz ele: assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da natureza Marx descobriu a lei do desenvolvimento humano. Marx demonstrou que desde que a sociedade se dividiu em classes o “motor” da história é a luta de classes e que a essência dos confrontos políticos e sociais travados por essas classes é a conquista e o controle do poder político. Antes, argumenta Engels, todas as transformações históricas eram explicadas pelas mudanças ocorridas nas idéias dos homens. “Não se perguntava, diz ele, de onde vinham aos homens as idéias ou as causas motrizes das transformações políticas”. Por isso, a elaboração de Marx é tida como uma verdadeira revolução na concepção da história universal.

A segunda descoberta refere-se, digamos, à solução “definitiva” do enigma da exploração capitalista: a mais-valia. E com ela se dá um corte epistemológico na esfera da economia política. Sobretudo em O Capital Marx sistematiza as leis que regem a dinâmica do capitalismo.

Ainda nas palavras de Engels, por mais que Marx tenha sido homem de ciência não constituía, contudo, “por muito que fosse, a metade do homem”. Pois para ele, “a ciência era uma força histórica motriz, uma força revolucionária”. E narra o prazer que Marx sentia por conhecer as descobertas que teriam impacto na indústria e no desenvolvimento em geral.

Ao concluir sua homenagem, Engels explica por que Marx “foi o homem mais odiado e caluniado de seu tempo” tanto pelos conservadores quanto pelos ultrademocratas. Isso se deu – explica – porque, “antes de tudo”, Marx era um revolucionário. Às últimas conseqüências ele levou à prática seu pensamento de que não basta interpretar o mundo, mas transformá-lo. Marx, além de elaborar as bases teóricas do movimento transformador foi também infatigável na esfera da ação política concreta à medida que se dedicou à luta e organização dos trabalhadores.

Tendo como marco a publicação de o Manifesto do Partido Comunista, em 1848, o marxismo tem se projetado pelos séculos como uma efetiva força-motriz do processo revolucionário mundial em todos os seus os âmbitos. O século XX, por exemplo, foi marcado por revoluções, inspiradas e orientadas por seus ideais, que inauguraram o início da jornada de construção do socialismo no mundo. A derrota da experiência soviética levou os ideólogos do capitalismo a proclamarem a caducidade do marxismo e a inviabilidade histórica do socialismo e do comunismo.

Tal veredito – a exemplo de outras inúmeras sentenças de morte a que foi condenado o marxismo – revelou-se, entretanto, apenas um mero desejo dos opressores. No início do século XXI o mundo vive – em decorrências dos paradoxos e crises do capitalismo – sob o signo de uma nova onda de luta pelo socialismo. O marxismo continua vivo na produção científica, em correntes estéticas da cultura, e pulsante na ação revolucionária dos trabalhadores e povos.

Desenvolvê-lo e enriquecê-lo para que ele esteja à altura dos problemas do processo revolucionário de nosso tempo é um dos maiores desafios do movimento transformador na atualidade.

*Os editores

EDIÇÃO 82, DEZ/JAN, 2005-2006, PÁGINAS 3