O livro trata das incertezas de nosso tempo de uma maneira a desvendar seu conteúdo. O nosso contexto está marcado por duas grandes possíveis interpretações teóricas sobre as incertezas.
A incerteza apresentada pela pós-modernidade como manifestação de uma condição inexorável, frente à qual só nos restam a adaptação e a incerteza como produto das condições materiais e espirituais do desenvolvimento das próprias contradições do capitalismo. Estas são duas grandes posições em disputa.

O livro se desenvolve destacando os vários aspectos envolvidos na construção de um ambiente socialmente paralisante, construído como manifestação subjetiva da primeira concepção, buscando ao mesmo tempo evidenciar que a profunda compreensão das incertezas como produto das contradições materiais e espirituais do próprio capitalismo pode abrir grandes possibilidades de superação da ordem capitalista.

O desafio teórico dessa obra consiste em argumentar nesse sentido.
Para que um mínimo de esperança seja recolocado e os diferentes e variados movimentos de contestação sejam organizados – visando à criação de uma nova ordem –, é necessário vencer as elaborações que nos imobilizam e buscam justificar as incertezas como condição de uma nova época.

Nesse livro, através de quatro capítulos – “O que nos impede de pensar”, “A crise do capitalismo real e as incertezas”, “A tentativa de naturalizar as incertezas” e “A necessidade de reconstruir as esperanças” – desmistificam-se as incertezas naturalizadas como fenômeno de uma época e condição insuperável e indicam- se os elementos para a construção de uma visão de superação das incertezas a partir do entendimento de algumas de suas principais raízes. Para isto, o autor – apesar de proclamar não possuir pretensão de falar como filósofo ou como sociólogo, mas sim como educador – não pôde deixar, para cumprir seu intento, de enveredar com muita competência nas duas áreas. O que não é de estranhar, pois, como ele mesmo afirma, um educador preocupado com o tempo presente e necessitando situar-se no cenário global não teria outra opção. As teorias educacionais não podem ser entendidas sem essas interfaces.

E hoje – embora para alguns as abordagens pós-modernas tenham perdido sua força –, comungo com a idéia defendida pelo autor de que estas abordagens continuam fortemente influenciando e cada vez mais se constituindo em esteio teórico não só das teorias educacionais e suas derivações pedagógicas e curriculares, como também de outras áreas da práxis social.

Partindo das idéias de I. Wallerstein, Luiz Carlos de Freitas busca mostrar que na queda do socialismo real e nas diferentes interpretações deste marcante fato histórico reside grande parte da origem das incertezas
que nos assombram. Freitas dá grande contribuição ao debate em torno
desse fato histórico ao trabalhar aspectos teóricos de fundo que costumam dar às abordagens pós-modernas certo grau ilusório de inovação.

Estas questões são condensadas e trazidas para a análise social como partes constitutivas do que se costuma chamar de “teoria do caos”. Trata-se dos
conceitos de contradição versus bifurcação, diferença e particularidade e da forma como vêm sendo trabalhadas as categorias de complexidade e historicidade.

O autor revela o arcabouço positivista e pragmatista hoje presente nas abordagens de naturalização das incertezas. Com base na análise de G. Arrighi sobre os ciclos sistêmicos de acumulação do capital e de suas crises
de hegemonia – que nos permite entender as configurações do capitalismo atual –, Luiz Carlos de Freitas nos mostra as particularidades do que se convencionou chamar de sociedade de consumo, mobilizando teoricamente os leitores para que exerçam a crítica à modernidade capitalista nas suas particularidades atuais e optem, de forma fundamentada, pela construção dos princípios de uma pós-modernidade comprometida com a libertação resgatando de forma atualizada os princípios de libertação presentes na
modernidade.

Madalena Guasco Peixoto

EDIÇÃO 86, AGO/SET, 2006, PÁGINAS 81