O que é nossa inocência,
nossa culpa? Frágeis, somos,
        vulneráveis. E de onde vem a
coragem: a pergunta sem resposta,
a resoluta dúvida –
muda chamando, surda ouvindo – que 
no infortúnio, na morte mesmo,
          encoraja outras ainda
          e em sua derrota anima

          a alma a ser forte? Compraz-se
e com perspicácia vê
          quem a mortalidade abrace
e no confinamento contra si
mesmo se volte, assim
como o mar que no abismo intenta ser
livre mas, incapaz de ser,
           no ato de capitular
           encontra seu perdurar.

           Quem no sentimento espera
assim age. O próprio pássaro,
           que ao cantar se engrandece, acera
o corpo aprumado. Embora cativo,
seu poderoso trino
diz: o contentamento é humilde;
quão puro é o regozijo.
Isto é mortalidade,
isto é eternidade.
 

Poema – Marianne Moore 
Seleção João Moura Jr.
Tradução e Posfácio de José Antonio Arantes
Editora Schwarcz – edição 1991- Companhia das Letras.