Alma atlântica
Em algum lugar
do tempo humano
erguemos muros de medo
em volta de nós mesmos.
Em algum dia
da noite de terror
na pátina dos dias
ao desenhar,
no quintal da infância
arabescos
de não ser feliz
sitiei meu EU Profundo
nas masmorras do horror.
Nunca mais
pude ouvir ou proclamar
a voz profunda
do meu ser antigo e sereno
que fui e SOU, fragmentado
em labirintos de nervos
no torvelinho
dos homens ignóbeis.
A angústia é estar
sempre entre
o poço e o pêndulo
da curvatura do tempo,
exposto às tormentas
dos néscios,
e dos números,
acossados
por tudo efêmero
e perepto.
A alma atlântica do mundo
só pode ser alcançada
pela raça prometéica
dos roubadores do fogo.
Sísifo não carrega
inutilmente
a pedra do eterno
retorno, pois
cria músculos
e manda cartas
ao futuro.
Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.