Dos sete mares,
dos cinco continentes
ecoam gritos de socorro.

Se Gagárin
a mirasse novamente
exclamaria:
é linda,
é azul
e lateja de dor.

É difícil dormir.
O que mora ao lado chora
e há um rumor de lágrimas
inundando o mundo.

A humanidade em velhos idiomas
em arcaicos dialetos
– a um só instante –
implora comida, paz e remédios.

Há uma África
por toda parte!
Crianças estendem tigelas
e as autoridades, em linho e seda,
explicam que não há verbas.
Explanam: é um crime a despesa
ultrapassar a receita.

Cá onde estou,
minha poesia
detecta em meio a esse turbilhão
de brados de luta
e pedidos de socorro,
um grito
que por uma casualidade
ouço com nitidez.

Vem lá
do meio do oceano,
lá dos arredores da Austrália.
O país é do tamanho de Sergipe.
A nação é pequena
e se tornou menor ainda,
pois os generais indonésios
assassinaram duzentas mil pessoas
em dois anos…

No Timor Leste,
dizer bom dia, eu te amo
pode resultar em sentença de morte.
Lá os tiranos decretaram:
A língua portuguesa é crime.
Desejar trabalhar e viver em paz
é tido como uma causa insana.

Não podendo
a um só instante
abraçar a todos,
minha poesia
acolhe e se incorpora
à diplomacia e à guerrilha timorense.

 

Verbos do Amor & Outros Versos – Adalberto Monteiro
Goiânia – 1997

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).