Impressão Do Brasil
Brasil é quando se começa a crer
no vir a ser do que se pode ver
pode ser uma fuga de ipoméias
pode ser contraponto de ninféias
Brasil é riachão com um cavalo
fio de sangue a madrugar o galo
dourados agarrados na tarrafa
do lenço da baía anil garrafa
o pescador atira o aranhol
de teias luminosas: cai o sol
e mar! amar! mar! e mar! amar!
o mar! o mar! talassa! o mar! o mar!
Brasil: aves de luz dão entrevistas
em fusões ilusões impressionistas
Brasil é só aquilo que ele é
pode ser Turner pode ser Mane
do ''Deus do Céu assim eu nunca vi!''
quando se vê o que se vê aqui
O crioulo que leva uma rabeca
depois que tudo o mais levou a breca
entre cacos de pedra uma criança
criada à nossa imagem e semelhança
Brasil flamengo luso americano
gauguim monet seurat corintiano
dos mineirões gigantes morumbis
maracanãs pelés gregos tupis
Brasil é preto-e-branco brasileiro
preto de branco-branco de pandeiro
Brasil de jaburu nefelibata
de ornato calipígio de mulata
do vermelho alagado de amarelo
dos falos e das flores de labelo
de luz e cor do amor ao desamor
das brisas tamisadas do calor
dos prateados módulos lunares
de seus arranha-céus orbiculares
dos degraus sagrados de memória
por onde o pobre agora sobe à glória
das cobras em tensão no bambual
das tardes de modinha imperial
Brasil do devagar tão de repente
e um vendaval de cores corre a gente.
Melhores Poemas – Paulo Mendes Campos
Seleção de Guilhermino César
Direção Edla Van Steen
Editora Global – 2ª edição 1997