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    Comunicação

    A meu partido (variação de Pablo Neruda)

    Me ensinaste a sentir fome bruta Com todos meus irmãos famintos! Me mostraste como a dor inquieta De um milhão de homens insatisfeitos Afoga a busca do ir buscar meu pão! Me fizeste ver a multidão dividida Me tornaste um caminho de aço Para um povo pobre e dispersado! Acorrentaste meu instinto de lobo Me […]

    POR: Moisés Diniz

    2 min de leitura

    Me ensinaste a sentir fome bruta
    Com todos meus irmãos famintos!
    Me mostraste como a dor inquieta
    De um milhão de homens insatisfeitos
    Afoga a busca do ir buscar meu pão!
    Me fizeste ver a multidão dividida
    Me tornaste um caminho de aço
    Para um povo pobre e dispersado!
    Acorrentaste meu instinto de lobo
    Me acrescentaste o dever da luta!
    Me transformaste num hospital humano
    Acolhendo sempre os irmãos domados!
    Me fizeste amigo de muros e panfletos
    Me acalentaste com tuas bandeiras rubras!
    Ruborizaste meus desejos pálidos
    Me entregaste um quinhão de tuas lutas!
    Me transformaste num combate vivo
    Redimiste meus pecados brancos!

    Não agarrei-me às mesquinharias
    E nem dopei os meus sentimentos!
    Fiz de conta que não tinha irmãos
    Meus irmãos eram os deserdados!
    Fiz dos meus braços uma rede curva
    Para embalar teu justo programa!
    Quando acordava na madrugada
    A minha dama era a própria terra!
    Fui descobrindo no meu caminho
    De vez em quando duas pegadas
    Quando perguntei se me abandonaste
    Tu disseste que não eram minhas
    Eram as pegadas dos combatentes
    Que sulcavam o mesmo solo!
     
    No teu árduo tempo de guerra
    Me confortaste com teus manuais
    Mas me disseste: não são cartilhas
    Toda experiência sofre mutação!
    Descobri assim o quanto era sagrado
    O teu desejo de mudar o mundo!
    Por tuas mãos passaram guerreiros
    Uns resistiram e outros se renderam
    Toda deserção traz uma desculpa
    Quando se quer abandonar a trincheira
    Trincheira eterna é a tua causa
    De construir o mundo das rosas!
     
    E eu guardei com dignidade
    Teus postulados e tuas bandeiras!
    Gente aflita, mártires, expropriados
    Empunharam a tua plúmbea luz!
    Me ensinaste os meandros da guerra
    Me deste enfim a ternura social!