Veneno num copo de tempo
Não obrigado. Não quero mais um copo de veneno. As almas despercebidas andam soltas em pleno dia de sol e não se incomodam de estarem em paletó e gravata. Eu vi vindo na esteira do tempo um aparelho de TV Phillips e as pessoas com pacotes da Ducal. Não faz mal lembrar coisas e gentes.
Não há tempo se o tempo deixa agente assim sem tempo de lembrar as coisas e ver que há sempre um dia de sol (ou de chuva) em que as coisas se repetem ciclicamente, na mente de quem não mente para si próprio (apenas para os outros).
Não obrigado. Não quero mais um copo de veneno, quem bebeu morreu e o azar foi daqueles que nem puderam decidir. Um dia a gente diz sim e está amarrado para vida toda, pela vida toda, não, pelo tempo que o tempo faz, mas que não faz retroceder aquela dor de barriga nem desfaz a casca da ferida nem traz de volta o tempo de dizer: outra vez.
Nada e nado assim em prosa estranha, tamanha impaciência que tenho da vontade de gritar: não enfie o dedo na tomada!! Mas de que adianta, não adianta nada, tome um choque por si mesmo, por mim e por toda humanidade que pode levar uma eternidade chocada, sem que a história possa fazer nada, mesmo fazendo, a cada segundo, pois mesmo terra girando parece que está parada.