Conversando com Exú
No tempo das caravelas, Cabral montava ondas para parir continentes. Expandiu a fé e o império, e fez os inimigos primevos do capital que ainda fedia a cueiros. Nunca soube dos tormentos e dos progressos que criou, ou começou por criar.
De nossa parte, não sabemos que dores de cabeça viveu e como morreu o varão assinalado. Sabemo-nos, sim, ainda inconclusos, mas satisfeitos por aqui estar – esplendidamente assentados e profundamente convictos de que para algo de bom viemos a esse mundo.
Hoje, sob um céu apoucado de estrelas; faltos de várzeas, bosques e flores – mas, nem por isso, com menos amores –, saboreamos um certo sentimento de porvir. É um gosto de que podemos, mais do que devemos. Uma sensação difusa de que, agora, vai.
Se vai mesmo, é difícil saber. Por enquanto, temos ido. E bem, mas bem melhor do que antes. Todavia, até Canaã, um estirão se apresenta.
Decerto, não há de ser a convivência entre larápios e gente boa o nosso destino. Não será a coexistência entre exploração e distribuição de alguma renda nosso porto de chegada.
É preciso mesmo ter um outro tipo de poder; um outro modo de vida; uma outra arrumação da casa; um jeito distinto de produzir riquezas e de relação entre os homens – para que tenhamos uma nação e um princípio de mundo de fato justos.
Como o que acontece hoje se liga a isso? Como fazer, do agora, pedaço do devir necessário? Que sujeitos movimentar e convencer? Com o que convencer? Como devemos ser para que esse outro dia aconteça?