Revolução
Eu não vou parar nas páginas policiais.
Eu não sou um direitista neoliberal.
Diariamente eu vejo homens e mulheres trabalhadores no impasse irregular de seus subempregos.
Diariamente eu vejo nas ruas a sangria nas expressões das crianças que pedem, pedem, pedem e perdem.
E eu vou pegar em armas se me derem motivos pra isso.
Todos os dias raros de arte, cultura e lazer eu vejo a massa sofrer.
Todos os dias as mazelas carregadas em nossos peitos ofegantes do desprazer.
Sem a fraternidade nos abraços, me vingo com a fúria no cumprimento do meu não-olhar.
Sem a fraternidade de quem se sabe desigual, eu luto pelo ideal de um mundo menos animal.
E eu vou pegar em armas se me derem motivos pra isso.
Calados, seremos milhões de desunidos.
Gritando, seremos ex-desvalidos.
Famílias desfeitas, doenças, adolescentes com raiva da falta de oportunidades presos todos os dias por cavalos sobre cavalos que nos arrastam das calçadas para dentro de suas celas.
Caos e redenção se fundem.
Rebeldia e apatia rimam.
A internet nos distancia do aroma da mulher amada.
E apesar da cruel liberdade cega, surda e muda, eu ainda sonho em criar meus filhos sobre este solo que nunca muda.
E eu vou pegar em armas se me derem motivos pra isso.
João Cony, gaúcho, nasceu 1978, é estudante de letras, músico e escritor. Teve textos classificados na 5ª Bienal da UNE. Publicou: “Criaturas de você mesmo”, poemas e contos.