Desquite
Vão, minhas canções,
vão simbóra
que este pilati
nem vale cem pilas
é só um ninguém
cravejado de agravos
e decepações
vão, vão lutar10 rounds
com jesus cristo
vão rebentar a teia
e a manha
do homem-aranha
vão levar a pedra
pra riba do aclive
vão fundar um vértice
cheio de artifícios
festejar a insanidade
do tio sam
numa cerimônia vodu
vão, vão acabar
com as pretensões
do poeta nacional
e dizer: “era uma vez,
tem mais não!”
vão sorrir seus molares
de nitroglicerina
e confetes
vão, minhas canções,
e ofereçam sexo barato
na estrada aos viajantes
ofereçam perdão aos padres
eles não sabem o que fazem
vão, vão simbora
ser camisa de força
para os crânios
mais escrotos
vão pular pela janela
se afogar a fórceps
no paranoá
vão iluminar
com plumas e paetês
o corpo dos mendigos
que vivem em nossos romances
vão cobrir os olhos
dos pobres com lantejoulas
para ver se eles brilham
no escuro
vão descobrir enfim
por que a Folha de São Paulo
jamais entenderá
os mil homens
que me tornei
vão, que eu fico
por aqui palitando
os versos e morrendo
de amores pelas maiores
maldades que cometi