Pai e filho à margem do Espírito Santo
– Quem fere a palma doce até a entranha
há de também sofrer açoite
e ter a costas a arder em chamas?
– Há de perceber, meu filho, como todos, suas dores
– feito o Cristo, que padeceu os seus e os nossos terrores.
– E quem sofreu todos esses horrores
– singrou mares, desde Cabo Verde ou Açores -,
ainda há de viver a fome e seus estertores?
– O de comer não importa à alma que maior fome sangra,
que é a de Deus e sua bonança.
– Pois essa fome da alma muito me estranha,
quando o ventre oco, enxuto,
mais enxuta e oca deixa a força humana;
quando mais curta traz a vista que não alcança
os horizontes extensos das paisagens santas.
Muito, me estranha, meu pai,
essa tua glória
a jeito de vingança.