Numa estação do metrô
Os vi se despedindo.
Cada lágrima, assim, do tamanho de uma uva.
Choravam tanto que os trilhos
Ficaram untados de sal.
A dor era tal que me deu vontade
De fazer um atentado,
Contra o trem, contra o destino,
Contra aquele estado.
Era um ato criminoso separá-los.

Mas, tempos depois, noutra estação,
Choraram as doces lágrimas do reencontro.

Então, foram a muitas festas.
E, patriotas,
Antes de dar uma volta ao mundo,
Foram à Amazônia, ao cerrado, ao litoral
E também ao Pantanal.
Construíram uma casa de verde jardim.
E para que nela houvesse mais vida,
Primeiro nasceu Camila, em seguida, Ludmila.
E depois, o caçula, Aladim.

Mas no parque da vida
Girou e girou o carrossel.
E os reencontrei dessa vez
Numa estação outra da vida.
Estavam, aparentemente, graves,
Mas serenos.
Solícitos, respeitosamente,
Civilizadamente, para sempre, despediram-se.
Um foi para depois do norte,
O outro para além do sul.

Quando as máquinas zarparam,
Levitando sobre as linhas de ferro,
Caiu água salobra
Daquele céu que há dentro da gente.

 

As Delícias do Amargo & Uma Homenagem poemas – Adalberto Monteiro
Editora Anita Garibaldi, 2006
 

Adalberto Monteiro, Jornalista e poeta. É da direção nacional do PCdoB. Presidente da Fundação Maurício Grabois. Editor da Revista Princípios. Publicou três livros de poemas: Os Sonhos e os Séculos(1991); Os Verbos do Amor &outros versos(1997) e As delícias do amargo & uma homenagem(2007).