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    Comunicação

    A pedagogia dos aços

    Candelária, Carandiru, Corumbiara, Eldorado dos Carajás… Há cem anos Canudos, Contestado, Caldeirão… A pedagogia dos aços golpeia no corpo essa atroz geografia… Há uma nação de homens                              excluídos da nação. Há uma nação de homens                              excluídos da vida. Há uma nação de homens                              calados,                              excluídos de toda palavra. Há uma nação […]

    POR: Pedro Tierra

    3 min de leitura

    Candelária,
    Carandiru,
    Corumbiara,
    Eldorado dos Carajás…

    Há cem anos
    Canudos,
    Contestado,
    Caldeirão…

    A pedagogia dos aços
    golpeia no corpo
    essa atroz geografia…

    Há uma nação de homens
                                 excluídos da nação.
    Há uma nação de homens
                                 excluídos da vida.
    Há uma nação de homens
                                 calados,
                                 excluídos de toda palavra.
    Há uma nação de homens
                                 combatendo depois das cercas.
    Há uma nação de homens
                                 sem rosto,
                                         soterrado na lama,
                                 sem nome,
                                         soterrado pelo silêncio.

    Eles rondam o arame
    das cercas
    alumiados pela fogueira
    dos acampamentos.

    Eles rondam o muro das leis
    e ataram no peito
    uma bomba que pulsa:
    o sonho da terra livre.

    O sonho vale uma vida?
    Não sei. Mas aprendi
    da escassa vida que gastei:
    a morte não sonha.

    A vida vale um sonho?
    A vida vale tão pouco
    do lado de fora da cerca…

    A terra vale um sonho?
    A terra vale infinitas
    reservas de crueldade,
    do lado de dentro da cerca.

    Hoje, o silêncio pesa
    como os olhos de uma criança
    depois da fuzilaria.

    Candelária,
    Carandiru,
    Corumbiara,
    Eldorado dos Carajás não cabem
    na frágil vazilha das palavras…

    Se calarmos,
    as pedras gritarão…

    Poema escrito para denunciar o massacre dos trabalhadores sem terra em Eldorado dos Carajás, em 1996.