Quanto mais o tempo passa, isto é, quanto mais a gente envelhece, mais cresce a vontade dos escrevinhadores em traçar e explorar assuntos autobiográficos. Sempre estive consciente disso, prometendo a mim mesmo que não cairia nessa, à medida que chegasse o meu tempo. Se não que, como acontece com todos nós, há momentos em que parecem mais que justificáveis certas abordagens em função de determinadas circunstâncias.
 
      Pronto. O assunto que elegi para hoje é a minha teimosia em não praticar a língua inglesa no seu formato universal utilitário versus um prazer arraigado que tenho, há várias décadas, em cultivar as línguas neolatinas (especialmente duas – o italiano e o português), claro que dentro das minhas limitações.
 
      Mas vamos por partes. Logo acima defini como inglês utilitário essa língua na versão norte-americana que se pratica cada vez mais em um formato simplificado e literariamente despretensioso. Como profissional de comunicação só posso aplaudir esse fenômeno que foi acontecendo espontaneamente devido a uma necessidade imperiosa e crescente de todo o mundo falar ou se corresponder com todo o mundo. Por outro lado, no entanto, pela minha porção de homem de letras, entendo plenamente o espernear dos puristas ingleses, assim como a mágoa dos franceses, herdeiros de um patrimônio cultural inestimável, expresso no seu riquíssimo idioma… e assim por diante.
 
      O fenômeno natural da formação e adoção de um inglês utilitário me traz à mente uma curiosa tentativa que aconteceu no fim do Séc. XIX que foi a de criar uma língua artificial chamada esperanto. Todo mundo sabe disso, mas ignora a forma de como ele foi inventado e estruturado com a pretensão de ser usado universalmente. Quem se der ao luxo de gastar um tempinho para analisá-lo como uma proposta viável de comunicação chegará a uma única conclusão: quanta ingenuidade! E quanto espanto quando pensamos que em pouco mais de 50 anos a ciência da comunicação evoluiu do esperanto para a semiótica.

      Descobri agora que fui divagando até a metade dessa crônica e nada disse que tenha a ver com o título e o parágrafo de introdução. Por outro lado, é pouco e simples o que tenho a dizer. Quando me mudei para o Brasil com 25 anos de idade já dispunha de uma razoável formação intelectual que ia da História da Arte à Literatura Italiana. Acontece que me mudei para ficar. Então, minha primeira preocupação foi a de estudar, possivelmente dominar, o idioma português, apesar das minhas atividades principais serem vinculadas às artes plásticas: cenografia, design (que ainda não se chamava assim) e por aí afora.
 
      Durante alguns anos, no entanto, mantive uma correspondência regular com amigos italianos e os meus novos conhecimentos da língua portuguesa passaram a ser um tema freqüente de avaliações estéticas e pesquisas etimológicas. Até que em outubro de 56 fui convidado pelo jornal O Estado de São Paulo para criar o projeto gráfico do Suplemento Literário e assumir a secretaria de produção daquele veículo que estava sendo lançado sob a direção de Décio de Almeida Prado. Daí passei a conviver em contato constante com, digamos, a intelectualidade brasileira durante os cinco anos que trabalhei na casa do Estadão. 
 
      Acho que está faltando apenas justificar o título. É o seguinte: quando traduzia cartas redigidas em italiano para meus novos amigos brasileiros, uma das palavras de maior sucesso pelo significado e pela sonoridade era domani (amanhã).
 
      E aqui vai para o meu paciente leitor mais uma informação que tem algo a ver com o que acabo de dizer. Eu sempre gostei de gatos. E a primeira bichana que achei na rua e adotei, batizei-a de Domani, pois este nome, além de outros significados, tem uma virtude propiciatória.
 
Até a próxima.