Balada da Chuva
Talvez seja a sinfonia desses ventos,
trazendo sobre nós os sonhos de impossíveis viagens,
A imaginação solta, desvairada ao vermelho do crepúsculo,
desenha aventuras fantásticas, em que seríamos o amor do
[mundo inteiro.
Ou mesmo a recordação dos fracassos, do primeiro gesto
[terno
que nos ruborizou o rosto e encantou a alma. A visão tão
[simples
de uma mulher bela que passe por uma rua, qualquer que
[seja.
porque nas ruas enfrentamos as possibilidades infinitas do
[destino.
A profunda nostalgia desses trovões no ar, a melancolia
desses pingos rebatendo no telhado. Tudo isso me faz pen
[sar
que a tive aqui, em tempos mais duros do que este.
E que recordar é inútil. E que chorar é impossível,
como impossíveis eram os caminhos que trilhamos
sozinhos como em sonho.
A vontade de embarcar num trem e não indagar sobre o
[destino.
A última cidade. A última parada. Deixar tudo. Mulheres,
empregos, e a reduzida felicidade de nosso cotidiano.
Hospedar numa pensãozinha humilde, e dizer que me cha-
[mo Pedro,
Paulo, Ezaú e Jacó, e mentir que sou apóstolo de Jesus,
Tudo, menos esse vazio
que não deixa coragem sequer para o suicídio!
Martírio das Horas Poemas – Brasigóis Felício
Editora Oriente
Brasigóis Felício, é goiano, nasceu em 1950. Poeta, contista, romancista, crítico literário e crítico de arte. Tem 36 livros publicados entre obras de poesia, contos, romances, crônicas e críticas literárias.